28 abril 2008

O PÃO, O BIOCOMBUSTÍVEL DAS REVOLTAS

Artigo de Opinão de Ferreira Fernandes, publicado no Diário de Notícias, edição de 28 de Abril


"Maria Antonieta nunca disse: "O povo não tem pão? Que coma brioches!" Em Confissões, livro escrito em 1766, Jean-Jacques Rousseau atribui a frase a uma "grande princesa" e nessa data Maria Antonieta tinha 10 anos e vivia em Viena. Mas interessa-me a frase porque prova que o estômago vazio é que dá horas às revoluções, não a falta de liberdade. O povo de Paris foi cercar o palácio de Trianon, protestando pelo preço do pão, primeiro, e só mais tarde é que decidiu libertar os presos da Bastilha.

Lembro-o pelas revoltas que vão por todo o mundo, do México à Malásia, por causa da escassez de comida. Segundo o Banco Mundial, o preço dos bens alimentares subiu 83% nos últimos três anos. Para explicar o drama global, nada como a língua global: em inglês, esfomeado (hungry) e revoltado (angry) são palavras próximas na escrita e pronunciam-se de forma ainda mais parecida. Entre o engolir em seco e as barricadas vai um intervalo mais curto que uma digestão saudável.

E tudo porque o petróleo sobe a 120 dólares o barril. Subindo, incentiva a compra de biocombustíveis (sem precisar da Rainha Isabel de Inglaterra dizendo: "O povo não faz o pleno com gasóleo? Que encha com etanol!"). Logo, sobe o preço do milho e do açúcar. Não se podendo comprar tanto milho, compra-se mais arroz. O preço do arroz dispara por causa do barril de petróleo, apesar de os seus sacos de bagos não servirem para mover bielas de um motor.

Ciclo infernal. A economia é uma ciência. A ciência é uma coisa de laboratórios. Nos laboratórios há vasos comunicantes. Os vãos comunicantes explicam que nada se perde, tudo se transforma, o que esvazia daqui, enche ali. Quando uma borboleta bate as asas numa refinaria do Iémen, há uma tempestade nos arrozais da Índia. E tudo à volta do essencial, o pão.

D' Os Miseráveis, de Hugo, a Um Dia na Vida de Ivan Denissovitch, de Soljenitsin, tudo anda à volta de um pão. Quando John Ford quer contar um sonho, um símbolo de fartura, a Califórnia, pára numa cena de As Vinhas da Ira. Durante a Grande Depressão, a família de Tom Joad percorre a estrada 66 numa fuga bíblica. Numa estação de serviço (olhem, já lá está o petróleo...), os Joad não podem comprar sanduíches e imploram para levar pão seco (olha, o pão...). O sonho simbólico não vale nada comparado com aquela premência (e preeminência também) enfarinhada.

Que não se brinque com ele, o pão. Habituados que estamos que os conflitos venham de fundamentalistas saciados (com reivindicações de Club Méditerranée, com paraísos e virgens), era bom que descêssemos à terra. O pão é o biocombustível das revoltas a sério. Esse, sim, é um problema que não tem outra solução senão resolvê-lo."

O FANTASMA DA FOME GLOBAL

Artigo de Opinião de João César das Neves no Diáio de Notícias, edição de 28 de Abril


"A subida mundial dos preços alimentares é um tema dramático. Os jornais trazem previsões aterradoras e notícias de revoltas populares contra o preço da comida. Regressam os medos de fome global, 200 anos após Malthus. Para lá das vulgarizações mediáticas, as médias mensais mundiais publicadas pelo FMI (www.imf.org/external/np/res/commod /index.asp) mantêm-se preocupantes.

Desde o início de 2007 até ao mês passado o preço do trigo aumentou 124%, o do arroz 85% e o do milho 41%. A subida não é só de cereais, porque o azeite aumentou 90%, óleos de soja e de palma 108%, banana 61%, laranja 54%, cacau 56% e café 52%. A energia também está muito cara, com o carvão a subir 140% e o petróleo 90%, como os metais: chumbo 81%, ferro 66%, cobre 48%.

Curiosamente, os preços que mais caíram são alimentares: carnes de vaca e porco desceram 10%, a média do peixe 7%, camarão 15% e o chá 1%. Mas as subidas são impressionantes. No arroz e trigo, os bens mais sensíveis, os aumentos são os maiores dos últimos 25 anos. Os efeitos são já dramáticos, com a fome a surgir em certos locais.

A comida naturalmente apaixona o mundo e os especialistas, gerando teorias contraditórias. A tese de Malthus em 1798 previa escassez e carestia crescentes. Esta ideia, depois rejeitada, renasceu nos movimentos ecologistas. Entretanto surgiu uma teoria com a consequência oposta. A "tese Singer-Prebish" de 1950 supunha uma "degradação dos termos de troca", com os preços das matérias-primas a descer face aos produtos industriais, o que exploraria os países pobres.

A verdade é que os preços dos alimentos sofrem muitos e complexos impactos. Se os limites físicos e ambientais serão sempre determinantes, como disse Malthus, as impressionantes melhorias tecnológicas nas culturas e detecção de jazidas contrariam esses limites. O resultado tem sido uma flutuação intensa sem tendências seculares definidas.

Qual a origem deste surto altista? Uma causa imediata é a queda do dólar. Em euros, as subidas são bem menores (trigo 88%, arroz 55% e milho 19%) mas ainda significativas e no trigo mantêm-se as mais elevadas no registo. Por outro lado, descontada a inflação, os preços, mesmo em dólares, ainda estão bastante abaixo dos valores do início dos anos 80. As matérias-primas registaram uma tendência decrescente nas últimas décadas, agora invertida. O fantasma global ainda vem longe.

A atenção mediática centra-se em alguns efeitos pontuais. Nervosismo internacional, maus anos agrícolas e instabilidade sociopolítica local hão-de passar.

Também a famigerada especulação, supostamente dominante, só de vez em quando surge para ficar com as culpas.

Muito mais importantes são as duas forças decisivas: o mercado e a lei. A razão principal desta situação é algo excelente: o recente desenvolvimento das regiões pobres aumentou a procura de alimentos. Isso significa que a fome está a descer, não a subir.

Curiosamente, agora que os preços alimentares estão altos, os activistas protestam em nome dos pobres consumidores, enquanto antes, quando estavam baixos, protestavam em nome dos pobres produtores. Como sempre, a subida de preços criará a correcção de mercado. Novos investimentos nesses sectores, desencorajados nos anos de preços baixos, tenderão a prazo a reduzir a carestia.

Se a política o deixar, claro. Os mercados agrícolas e alimentares são dos mais espartilhados e regulamentados. Os governos, convencidos que apoiam e promovem, criam enormes bloqueios e distorções, de que a política agrícola europeia é um exemplo terrível. As negociações globais de liberalização da Organização Mundial do Comércio estão moribundas sobretudo por causa do dossiê agrícola. Às pressões rurais juntaram-se agora as ambientais, com a opção pelo biodiesel a justificar novas manipulações.

Desde o tempo de Malthus que as boas intenções políticas, impedindo importações e manipulando preços, geram episódios de escassez.

A melhor solução para a carestia seria a liberalização.

Mas como a comida apaixona o mundo, não há grandes esperanças."

21 abril 2008

Alpiarça no Há Vida em Markl

Eu não me canso de dizer no Cão Malinoso que Alpiarça é uma vila fora do vulgar, principalmente em termos de derivações linguísticas...

Hoje fiquei a saber, na edição do Há Vida em Markl da Antena3, que agora também produzimos Vinho Indiano!!! É isso mesmo que ouviram, Vinho Indiano!


Fantástico! O que virá a seguir? Salchisas de Frankfurt do Chouriço? Melões da Nova-Zelândia? Arroz Xau-Xau do Olívio?

Estamos em grande... :)

Obs:
Para quem não ouviu a edição do Há Vida em Markl, pode fazer o download aqui.

14 abril 2008

Pastilha Estás à Janela!

Sou uma gaja com uma personalidade aditiva. Consequentemente não é estranho ter, ou vir a adquirir ao longo da minha jornada terrena, vícios das mais variadas estirpes. De momento, as minhas únicas compulsões com tendências megalómanas baseiam-se em chocolates, cremes, palavras e pastilhas elásticas (pelo menos que me lembre). Podia ser pior. Confesso que vivo aterrorizada pela possibilidade de uma proliferação furtiva de vícios mais nefastos. Espanejo com violência todas as projecções macabras de um futuro como fumadora inveterada, alcoólica transviada, heroinómana ressacada, jogadora compulsiva ou, quiçá, ninfomaníaca tarada. Enquanto apago as imagens grotescas de uns pulmões apodrecidos pelas inspirações sucessivas da nicotina adulterada pelo alcatrão, de um fígado espancado por incontáveis bezanas, de uns braços deploravelmente esburacados do uso inconfesso de seringas, e de uma vida de gang bangs consecutivos premiados por doenças com nomes tão sugestivos como gonorreia, masco com convicção uma das dezenas de pastilhas elásticas do dia.

Todos os pecados são o resultado de um qualquer excesso cometido; é por isso que todos os excessos acabam por ser punidos com situações embaraçosas. A minha relação demasiadamente apaixonada com as pastilhas elásticas não é excepção e já teve consequências vergonhosas. Passo a citar as que, por agora, me recordo:

À uns anos, estava eu animadamente numa mesa de café a sair-me bem no processo de concepção de novas amizades, quando, inopinadamente, a amenidade do diálogo foi interrompida pelo salto abrupto de um pedregulho branco da minha bocarra linda. Podia ter dito que tinha caído do tecto. Afinal, a realidade é tão fugaz que, com um pouco de convicção, se calhar não teria sido difícil convencer meia dúzia de pessoas que as minhas beiças não se tinham aberto e regurgitado aquele calhau. Mas, na altura, tal não me ocorreu e optei por elucidar os meus potenciais amigos quanto à ausência de próteses dentárias no meu dia a dia, admitindo que aquilo tinha sido apenas uma pastilha elástica que tinha comprado na Hussel com, obviamente, desconhecimento completo do seu tamanho avantajado. Deste modo, abafei os instintos primários que me levaram a triturar vinte e tal pastilhas ao mesmo tempo.

Também me acontece frequentemente virem-me alertar para a possibilidade de uma infecção dentária me estar a inflacionar um dos lados da cara; o que acontece quando a imensa massa elástica, que voluntariamente coloquei na cavidade bocal, migra e imobiliza-se numa das bochechas com o objectivo de dar descanso aos meus maxilares.

Quanto a comentários recorrentes referentes ao meu malogrado vicio, destaco o paternalista:
“Sabes que as pastilhas elásticas têm efeito laxante? É melhor não comeres tantas! Não estou a inventar, diz na caixa, já leste?”
É claro que já li! E é igualmente claro que em mim o efeito laxante já se extinguiu à muito. Esse tal de efeito laxante é para meninos, não é para pessoal batido como eu que já anda nisto das pastilhas há séculos! Sim, eu já trilhei todo o submundo moderno destas iguarias peganhentas! Comecei aos cinco anos com as já velhinhas pastilhas Gorila, compradas a cinco escudos cada. Depois vieram as Chiclet. Como eu gostava de arrasar de uma vez só com uma caixa inteira daquelas azuis de mentol. Que estalo que aquilo dava! Estou convicta que toda a colheita humana dos anos oitenta que teve uma infância decente guarda estas duas marcas com carinho na memória…

Actualmente, consumo e recomendo as Trident, sem excepção de nenhuma linha ou sabor: azuis, verdes, max air, de frutos silvestres, splash, morango, pêssego, senses, etc…todas sabem bem, todas proporcionam um mascar agradável e todas dão para fazer uns balões porreiros!

Adiante…

Como eterna inquisidora do mundo que me rodeia, já me ocorreu questionar para onde vão todos os dejectos elásticos com que já mimoseei o chão no decorrer dos meus passeios citadinos. Lembro-me de uma ou outra vez ter tido o infortúnio de pisar esta matéria pegajosa. Mas uma ou outra vez, de acordo com a teoria das probabilidades, é muito pouco! O que não deve é faltar gente por aí como eu a minar o chão de pastilhas! Convenci-me então que os resquícios mastigados do que outrora fora um rectângulo imaculado desapareciam na voragem das águas que lavam as ruas.

Contudo, há pouco tempo, o meu primo veio falar comigo:
- Já reparaste que o chão de Lisboa está todo conspurcado por essa merda de fenómeno das pastilhas elásticas?!?
- A sério? Nunca vejo nenhuma! – Respondi eu, ingenuamente.
- Sim, com o tempo ficam pretas e espalmadas contra o chão. Parece que o chão está todo manchado de pintas negras!

Não convencida pela sugestão de as minhas queridas pastilhas andarem por aí a caluniar os passeios e as estradas de porcos javardos, resolvi ir a correr confirmar a veracidade (ou não) de tal afirmação.
Fiquei horrorizada! Aquilo que eu sempre pensei serem meras marcas da sujidade do tempo, afinal são um batalhão de pastilhas defuntas!

E foi assim que abandonei de vez o meu passatempo alarve de cuspir pastilhas elásticas em fim de vida para o meio da rua, para gáudio dos meus adversários nos concursos do “Cuspir Mais Longe”, em que sempre fui orgulhosamente campeã!

07 abril 2008

A preguiça é o caminho…

by Mónika
sexta-feira, 04 Abril 2008

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Preguiçoso, ocioso, malandro, e mandrião são algumas das possíveis traduções para o adjectivo “lazy”. Mas a “smart laziness”, isto é, a preguiça inteligente, pode ser a fórmula mais eficaz para o sucesso profissional. É esta curiosa teoria que nos apresenta o blogue “The Lazy Way to Success”, de Fred Gratzon.

Copyright (c) ANJE 2007.

Contrariando todos os paradigmas que apontam o esforço e a dedicação como padrões de comportamento para uma triunfante carreira no mundo dos negócios, este empresário norte-americano afirma-se totalmente contrário ao conceito de “trabalho árduo”. No seu blogue, encontramos um conjunto de dicas "anti-trabalho” que conduzem a uma “doce” e estranha forma de vida: "nada fazer e tudo conseguir”. Ora nem mais…
As suas hilariantes e bem sucedidas aventuras no mundo empresarial surgem, de facto, como exemplo e incentivo para uma vida simultaneamente “preguiçosa” e empreendedora. Num tom que o próprio autor caracteriza como "provocador”, a realidade parece confundir-se com a ficção, enquanto os vários artigos apontam para a ideia de que um verdadeiro empreendedor é alguém que faz tudo para evitar arranjar um emprego, que se recusa a trabalhar e que não vê na falta de dinheiro ou experiência um entrave para a realização de um projecto. Foi nestas condições que Gratzon aplicou com sucesso a fórmula que defende, criando, em 1979, uma empresa de gelados que a revista People chegou a considerar como dos melhores da América. Anos mais tarde, partindo novamente do zero, abriu uma empresa de telecomunicações que viria empregar cerca de 1100 pessoas. Assim se compreende que o êxito do seu livro “The Lazy Way to Success: How To Do Nothing and Accomplish Everything” já ultrapasse fronteiras, com traduções e publicações na Alemanha, China e Japão.

O blog mora em http://lazyway.blogs.com/ e é uma delícia. Vale a pena passar por lá.

HF

02 abril 2008

Autarquias amigas da Família





A APFN saúda a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira por ter aderido à Tarifa Familiar da Água, exactamente nos termos propostos pela APFN (http://www.apfn.com.pt/Cadernos/caderno 7a4.PDF), despenalizando as famílias numerosas desde Concelho no pagamento deste bem de primeiríssima necessidade, penalização a que as famílias numerosas estão ainda sujeitas em vários municípios.

A APFN espera que este exemplo seja, em breve, seguido pela totalidade dos municípios, assim como a adopção de outras medidas que tem defendido, como é o caso do Cartão Municipal de Família Numerosa , já existente em Vila Real , Coimbra e Tavira, uma vez que se trata de contributos concretos e eficazes para o combate à cada vez maior crise demográfica e instabilidade familiar.

A APFN espera, ainda, que o Governo perceba a mensagem, não só adoptando uma política a sério de apoio às famílias com filhos, tanto maior quanto maior o seu número, como acabar de vez com a sua cruzada dirigida contra os filhos de pais casados, que faz com que o discurso do Governo neste domínio soe a falsete, sem quaisquer resultados visíveis na inversão da queda da natalidade, porque totalmente desastrada.

O país não precisa de uma política de "incentivos à natalidade", tipo pecuária, inspirada no modelo alemão dos anos 30, mas de uma verdadeira "Política de Família" humanista, moderna e despida de ideologias idiotas e tabus.

01 abril 2008

Dia das Mentiras

Dia da mentira
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Há muitas explicações para o 1 de abril ter se transformado no Dia da Mentira ou Dia dos Bobos. Uma delas diz que a brincadeira surgiu na França. Desde o começo do século XVI, o Ano Novo era festejado no dia 25 de Março, data que marcava a chegada da primavera. As festas duravam uma semana e terminavam no dia 1 de abril.

Em 1564, depois da adoção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX de França determinou que o ano novo seria comemorado no dia 1 de janeiro. Alguns franceses resistiram à mudança e continuaram a seguir o calendário antigo, pelo qual o ano iniciaria em 1 de abril. Gozadores passaram então a ridicularizá-los, a enviar presentes esquisitos e convites para festas que não existiam. Essas brincadeiras ficaram conhecidas como plaisanteries.

Em países de língua inglesa o dia da mentira costuma ser conhecido como April Fool's Day ou Dia dos Tolos, na Itália e na França ele é chamado respectivamente pesce d'aprile e poisson d'avril, o que significa literalmente "peixe de abril".

No Brasil, o 1º de abril começou a ser difundido em Pernambuco, onde circulou "A Mentira", um periódico de vida efêmera, lançado em 1º de abril de 1848, com a notícia do falecimento de Dom Pedro, desmentida no dia seguinte. "A Mentira" saiu pela última vez em 14 de setembro de 1849, convocando todos os credores para um acerto de contas no dia 1º de abril do ano seguinte, dando como referência um local inexistente.