06 maio 2009

Messenger: O Congelador de Pessoas

(com refrigerador com tendências psicopatas incorporado)
Estou no trabalho, rodeada de colegas maldispostos e submersa na claridade desconfortável das lâmpadas fluorescentes. Como não podia deixar de ser, tenho o portátil ligado à minha frente.

Faço parte da geração de pessoas habituada a que um emprego seja um trabalho em equipa com o computador. Trata-se de uma boa parceria desde que não falte a luz ou que o disco rígido não tenha uma das suas crises temperamentais, o que invariavelmente acontece sempre que o sobrecarregamos de tarefas. Não está provado, mas acho que os aparelhos informáticos também sofrem de stress.

No canto inferior direito do monitor, um boneco verde respira em coro comigo o ar doentio do escritório. Carregar nele é como ir ao café, mas sem as partes boas.

Com um simples clic, o boneco verde desdobra-se noutros incontáveis bonecos verdes. O meu ecrã povoa-se instantaneamente de nomes. Familiares, amigos e conhecidos. Pessoas que vejo todos os dias e pessoas que nunca vejo. Pessoas que gosto e outras que me são indiferentes. Pessoas que estão neste momento encarceradas num prédio a produzirem o ordenado do final do mês ou pessoas com os pés enfiados no conforto das pantufas.

Ao longo dos anos fui acumulando as versões informáticas de quase todos os que passaram pela minha vida. Em muitos casos, o tempo passou e tudo o que restou foi o boneco verde.

Já não sei nada das pessoas, às vezes já nem sei bem quem elas são, mas, por uma ironia das tecnologias modernas, elas continuam a fazer parte da minha vida. O MSN é como uma arca frigorífica ilimitada. Conserva as pessoas muito depois delas já terem partido.

Mais do que um programa informático de comunicação, esta funcionalidade é um autêntico agente do destino. Contratado para interferir no curso normal da vida, ele transcreve para o nosso universo cheiros, sabores, imagens, sons, e, nalguns casos, até toques. Todos irreais. Ou melhor, todos intangivelmente reais.

Passamos a mover-nos num universo estranho. No mundo dos corpos fantasmas, onde o máximo que damos e recebemos das pessoas é a ambiguidade das palavras fáceis.

Tornamo-nos no Sonic, no Super-Mário, na Tartaruga Ninja dos jogos virtuais. E o perigo de tudo isto é virmos a confundir tudo. A realidade com a ficção. O passado com o presente. Quem nós verdadeiramente somos e quem são realmente os outros...

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