31 janeiro 2008

Resumo da Terra em 24h

O texto que se segue, nada tem a ver com Alpiarça, tem a ver com todos nós enquanto espécie humana.

Adaptei-o do livro "Breve História de Quase Tudo" do Bill Bryson e já o tinha colocado num outro blog (www.e-curioso.blogspot.com), mas gosto sempre de o recordar e de o partilhar.

Dá-nos uma perspectiva diferente do nosso tamanho...

Se imaginássemos a história da Terra com os seus 4500 milhões de anos comprimidos em 24h teríamos o seguinte cenário:

04h00: A vida surgiria muito cedo com o aparecimento dos primeiros organismos unicelulares simples;
04h00 - 20h00: Em termos de vida, praticamente não acontece nada neste período;
20h30: Aparece uma fina camada de irrequietos micróbios. Aparecem também, pouco depois as primeiras plantas marinhas;
20h50: Aparecem as primeiras alforrecas;
21h04: Aparecem os trilobites, seres que existem hoje em grande quantidade em termos de registo fóssil;
22h00: Começam a surgir as plantas terrestres. Pouco depois, surgem os primeiros seres terrestres;
22h24: Graças a uns "10 minutos" de clima ameno, a Terra está coberta pelas grandes florestas carboníferas, cujos resíduos hoje nos fornecem todo o nosso carvão. Aparecem os primeiros insectos voadores;
22h54: Pouco antes das 23h aparecem os Dinossauros e aguentam-se apenas durante "45 minutos";
23h39: Com o desaparecimento dos Dinossauros, começa a Era dos Mamíferos;
23h58m43s: Surge a espécie humana

Para quem pensa que é importante:
apenas existimos há alguns instantes, ou seja, 77 segundos, numa escala comprimida de 24h. É caso para dizer: cresçam e apareçam!

30 janeiro 2008

E em Alpiarça? Vamos pagar menos IRS?

É um tema que tem vindo a ser abordado aos poucos, desde que foi dada a possibilidade de as autarquias gerirem 5% do IRS cobrado em cada Concelho.
Hoje, na SIC, o assunto foi abordado tendo sido mostrados vários municípios que decidiram pegar nesta possibilidade e oferecer assim aos seus contribuintes mais uns trocos ao final do mês.

Para já são apenas 5% os Municípios que decidiram transferir como benefício para os seus munícipes (residentes e colectados) um valor até 5% do IRS.

Em Alpiarça, em 2006 (dados do Ministério das Finanças) foram apresentadas 2.836 Declarações de IRS, num total de IRS Líquido de 2.864.709,16.

Fazendo as contas por alto, se a autarquia cedesse 1% do IRS, e actualizando naturalmente os valores, estaríamos a falar de cerca de 30.000 Euros.

O máximo, seguindo o mesmo raciocínio poderiam ser 150.000 euros aproximadamente (5%).

Estamos a falar do dinheiro que a autarquia irá passar a receber se decidir que não vai prescindir de nada em benefício dos seus munícipes.

Sinceramente, nem me parece um valor por aí além, pelo que fica o dilema: É uma nova receita, que podemos aumentar na medida em que consigamos atrair mais residentes e contribuintes que se colectem em Alpiarça. Mas ao mesmo tempo, é algo que podemos dar aos munícipes como um benefício, mas do qual a maior parte das autarquias não quer prescindir.

Então estamos a assistir a uma verdadeira luta entre municípios para ver quem consegue angariar mais habitantes.

Ainda não tenho uma opinião muito consistente acerca deste tema... e sinceramente, não sei o que será melhor: a autarquia pegar nos 5% e reinvestir no Concelho, ou dar esse dinheiro aos munícipes. Feitas as contas, afinal os 150.000 euros a dividir pelas declarações... dá pouco mais de 50 Euros.

Fica o tema para que possamos discutir.

Afinal... Alpiarça, deve transferir alguma % de IRS para os seus habitantes? Ou deve pegar no dinheiro que recebe a mais por essa via e reinvestir no concelho?

PS: Só em jeito de rodapé. Em Almeirim, são entregues quase 9.000 declarações, para um total de quase 11 milhões de euros. E ainda dizem que não há grandes diferenças entre estes dois concelhos.

Ah, fica o link com a informação das finanças, para quem queira fazer outras contas

Fonte de Informação sobre IRS por Concelho

29 janeiro 2008

Sondagens... valem o que valem

Nota:

Por lapso escrevemos um dos nomes com um erro. O nome já foi rectificado, pelo que agradecemos a quem votou que vote novamente.

16 respostas, 15 votaram a dizer que gostaram das mudanças do blog.
1 disse que lhe foi indiferente.
Vale o que vale... o número de respostas e as próprias respostas.
De qualquer modo, obrigado aos que se deram ao trabalho de responder.

Nova Sondagem

Hoje lançamos outra sondagem, desta vez com o objectivo de 'sentir' o pulso a quem anda pela blogosfera e circula com regularidade pelos blogs de Alpiarça, relativamente às próximas eleições autárquicas neste Concelho.

Os nomes apresentados resultam de uma análise ao longo do tempo aos nomes que de vez em quando surgem como hipóteses viáveis, não só na comunicação social regional, mas também nos vários blogs sobre a nossa terra.

Nenhum dos nomes confirmou, ou deu indicações que será candidato, e podem até haver outros nomes (infelizmente esta nova funcionalidade do blog só permite inserir 5 opções), pelo que, se houverem outros candidatos, podem enviar-nos comentários.

PS: Foi adicionado um novo link para quem quiser acompanhar os resultados da equipa de futebol do C.D. «OS ÁGUIAS». Se alguém tiver mais links interessantes relacionados com Alpiarça, por favor enviem-nos para enriquecermos o nosso blog.

28 janeiro 2008

O Martelo Pneumático

Um cabeleireiro! Um tal de Sr. Tino está a construir um cabeleireiro por baixo dsa minha casa. À primeira vista parece fantástico! Já não tenho de me deslocar para aceder aos múltiplos serviços a que uma rapariga dos tempos modernos recorre para não ser apelidada de vários nomes impróprios.

A um escasso metro da minha cama, numa perspectiva vertical, lá vão estar os secadores, os pentes, os champôs, as ceras depilatórias, as tesouras, os vernizes, e todo o staff próprio destes estabelecimentos que, ultimamente, dada a importância crescente atribuída pela nossa sociedade avançada à pilosidade corporal, adquiriram um estatatuto ímpar. Atrevo-me até a especular se um bom cabeleireiro nos tempos que correm não será o equivalente a um bom padre do nosso passado português ferozmente religioso. Afinal, um bom cabeleireiro, não só trata do visual, o que hoje em dia significa, literalmente, tratar da alma, dado que sermos bons passou a significar sermos bonitos, como também é o confidente nos bons e nos maus momentos, aconselhando de acordo com os princípios vigentes nas bíblias dos tempos modernos. As bíblias são, como se sabe, as revistas Caras, Lux, Vip, e por aí fora. Quanto aos apóstolos, também eles mudaram, sendo os mais populares: a Cinha, a Lili, o Castelo Branco, o Frota, os actores e actrizes dos Morangos com Açúcar, o tipo dos bares Amo-te, a moçoila que antigamente respondia por um nome masculino, a ex-striper convertida a uma profissão politicamente decente, entre tantos outros. Em suma, há apóstolos com fartura, ao gosto de toda a gente, e isso é que o povo gosta: um apóstolo a cada esquina, que não só cava batatas, como as cava na televisão e nas revistas em troca de uns quantos euros; importa salientar que o euro anda a substituir rapidamente as já fora de moda hóstias.

Contudo, apesar desta lista bastante generosa das vantagens de ter um cabeleireiro tão perto de mim, a ideia não me está a agradar absolutamente nada. Passo a explicar - para o raio do cabeleireiro “nascer”, todas as manhãs, por volta das oito horas, tenho de suportar a acção contínua do martelo pneumático, do berbequim, e de um outro martelo, quiçá não pneumático, mas igualmente poderoso no que toca a sonoridade. É caso para dizer que o parto da porcaria do cabeleireiro está a custar mais a mim que ao Sr. Tino, o pai oficial, que, provavelmente, estará sossegado em sua casa na ronha propícia a esta hora da manhã.

Claro que o barulho medonho destes instrumentos modernos da construção civil estimula a minha imaginação de uma maneira algo negativa, pois começo a imaginar cenários sangrentos, que põem em causa a menina certinha e de boas famílias que eu sou.

Para concluir, eu sei que esse belo instrumento, que dá pelo nome algo rocambolesco de martelo pneumático, é essencial ao crescimento económico do nosso país, e não tenho nenhuma objecção a que o Sr. Tino construa o seu cabeleireiro por baixo do meu quarto, apesar de não ser grande aficcionada da religião moderna. Mas tenho sim um comunicado a fazer aos cabrões dos construtores civis modernos: NÃO POUPEM NA CONSTRUÇÃO DA MERDA DAS PAREDES! E, ressalvo a legitimidade deste pedido, com outro pormenor, que daria para outra longa dissertação: duas vezes por semana oiço as actividades conjugais dos meus vizinhos, que, atrevo-me a avaliar, nada tem de excêntrico ou de anormalmente barulhento, o que comprova a finura das paredes! Recuperando um princípio antigo, no que toca a paredes, gordura é formusura!

27 janeiro 2008

Só se morre afogado por congestão quando os nadadores-salvadores estão ocupados a digerir o seu próprio almoço!

Não tomar banho depois de comer com medo de morrer de congestão é um mito Português! Os Japoneses têm um mito ao contrário, ou seja, não tomam banho de estômago vazio pois têm medo de morrer...

Quem me despertou a atenção para este assunto foi um professor que tive na Faculdade, o Dr. Pinto Gouveia, que é um dos psicoterapeutas mais conceituados do País. Mas esta é uma temática polémica para qualquer bom Português. Já tive várias discussões sobre o assunto.

Para quem acha que não pode tomar banho depois de comer pense na seguinte situação:

Acaba de comer uma feijoada e está totalmente empanturrado. Tem um compromisso importante daqui 1h e está a precisar urgentemente de um banho. Tomaria banho?

Caso tenha respondido que não, imagine o seguinte:
Se o seu corpo estiver a 37º, a temperatura do ar a 37º e a água com que for tomar banho a 37º, o que lhe poderá acontecer de mal? A água infiltrar-se pelos poros da pele e fazer um curto-circuito no cérebro?

Vá tomar banho descansado...



Para quem não acredita ainda, verifique o texto abaixo, publicado no PortugalDiário em 16/08/2003:

"Pode ir-se nadar logo a seguir ao almoço? A maioria dos portugueses hesitaria antes de responder a esta pergunta. No entanto, alguns médicos não têm dúvidas. Uma pessoa saudável pode ir brincar com as ondas cinco minutos depois de almoçar ou jantar. Chapinar no mar apresenta vários perigos, mas nadar de barriga cheia não é um deles.
«A digestão não exige que se esteja paradinho a seguir a uma refeição. Apesar deste processo consumir energia, uma pessoa saudável tem perfeita capacidade para nadar com o estômago cheio», diz o médico e investigador José Pedro Cansado Carvalho.
A paragem da digestão, também chamada popularmente «congestão», segundo este médico, «é um mito popular português». José Carvalho pesquisou a literatura médica internacional e não encontrou uma única referência ao conceito de paragem de digestão.

«Por vezes, sentimo-nos mal depois de comer, mas a digestão não pára»
E que dizem os nadadores salvadores sobre a congestão?
Quando o PortugalDiário confrontou o presidente da Associação Nacional de Salvamento Aquático, Fernando Martinho, com a pergunta, a primeira reacção foi a hesitação. Depois de alguma reflexão, Fernando Martinho diz que uma pessoa saudável deve esperar duas horas depois de uma refeição normal antes de entrar na água, apesar de concordar com a posição de José Carvalho que «não se morre afogado de congestão, mas de choque térmico».

Então porque é que muitas pessoas insistem na pausa depois do almoço mesmo se os especialistas em afogamentos sabem que não se morre de congestão? «Uma das razões para a confusão é que quando uma pessoa desmaia no mar, engole água e vomita tudo o que tem no estômago. É fácil associar -erradamente- o regurgitar à morte», explica José Carvalho.

Mas apesar deste médico achar importante pôr tudo em pratos limpos relativamente à congestão, não deixa de salientar que as pessoas têm de ser razoáveis: «Não faz sentido uma pessoa enfartar-se de feijoada e depois ir a correr para a água. É natural que se sinta mal. Da mesma forma, que um atleta se sentiria mal se resolvesse correr uma maratona depois duma almoçarada».

José Carvalho remata, com farpas para os salvadores: «As pessoas só morrem afogadas por congestão quando os nadadores salvadores não vão salvá-las porque eles próprios acham que têm de digerir o seu almoço na areia».
O gastroentrologista António Sarmento partilha da mesma opinião: «Morre-se no mar fundamentalmente por três razões: hipotermia, exaustão e o que se chama morte súbita».

A água do mar em Portugal é sempre fria. A hipotermia é a razão principal dos afogamentos, segundo António Sarmento. «O choque térmico pode provocar uma reacção ao nível do sistema nervoso que por sua vez pode provocar uma paragem cardíaca», explica ao PortugalDiário.
As paragens cardíacas na água podem ter outras causas para além da hipotermia: «um soco pode provocar exactamente o mesmo efeito», exemplifica António Sarmento.

25 janeiro 2008

Uma sugestão para quem não tiver nada que fazer entre 7 e 10 de Fevereiro

Comentário
Por decoro não incluo fotos.
Fica a notícia em véspera de fim-de-semana.

Notícia publicada no Correio da Manhã esta sexta-feira.

Preparem-se os nortenhos, ela vem de Barcelona disposta a bater o seu próprio recorde. Incomum é certo, mas no mínimo arrojado. Sónia Baby, a grande atracção do Eros Porto, que decorrerá entre 7 e 10 de Fevereiro no Pavilhão Multiusos de Gondomar, promete colocar dentro da sua vagina 90 metros de bandeirinhas, onde nenhum país será esquecido.

Sónia tem o epíteto de ‘acrobata vaginal’, dado o seu invulgar talento para utilizar o órgão sexual. De tudo já experimentou, desde correntes a cadeiras, mas tem já um novo desafio.

“Quero lançar dardos. Já o fiz com água, mas agora quero tentar isto. Têm é de ser de papel, porque senão a vagina não tem força. Estou sempre a pensar em coisas novas”, revelou ao CM. Mas será que estes malabarismos dão prazer a quem vê e quem o faz?

“A mim não me excita, mas os homens têm muita curiosidade. O músculo vaginal está muito relaxado, ao contrário do que acontece nas relações sexuais”, confidenciou. A espanhola de 24 anos foi buscar inspiração a uma amiga dos avós e partir daí tornou-se uma estudiosa da vagina. Agora testa os seus limites. “Nunca me aleijei”, garante.

Da República Checa chega a porta-voz do evento, Claudia Claire, a qual considera que os portugueses são diferentes. “São mais retraídos ao princípio, mas depois tornam-se melhores do que os espanhóis”, revelou.

A organização prevê que se desloquem ao certame 30 mil visitantes. As grandes novidades serão o espaço gay, o concurso da garganta mais funda, um espaço em que se pode tirar fotos no meio das artistas e um sexómetro, que mede a competência sexual.

A Praça de Touros

Está a chover lá fora. Aquela chuva de começo de Inverno que traz a nostalgia do Verão. Do alto deste sétimo andar, e através das grandes vidraças que adornam o edifício onde trabalho, consigo ver uma grande extensão de Lisboa. Lisboa com os seus prédios toscos, humildes e, às vezes, decadentes, que contrastam com a arrogância, a impertinência e a audácia das construções novas que, por aqui e por ali, já teimam em nascer, regadas pelo capitalismo moderno.

Daqui consigo ver bem a praça de touros do Campo Pequeno, que antigamente se bastava só com os touros mas que, nos dias que correm, não teve outro remédio senão ceder à febre de consumismo, qual madame empertigada e fútil!

A ausência suave de trabalho nesta tarde aguçou a minha curiosidade em relação à praça de touros. Porque raio é que uma praça de touros, numa cidade pseudo cosmopolita como Lisboa, tem umas cúpulas enormes e coloridas com um azul deslavado e encardido, que mais parecem saídas directamente das histórias das mil e uma noites e, como tal, apropriadas às terras mal governadas do Médio Oriente e territórios contíguos?

Dado que tenho o computador, com ligação à Internet, sempre ostensivamente ligado na minha secretária, ou seja, dado que tenho o mundo a meus pés, em sentido virtual, entenda-se, resolvi averiguar mais sobre o assunto.

Depois de vários clics descobri pouco; sem querer desmerecer essa grande senhora que é a Internet, a culpa de tão parcos resultados foi, provavelmente, minha, dado que, verdade seja dita, chegou a um ponto em que já não me apeteceu clicar mais. Descobri que o Senhor Arquitecto Dias da Silva decidiu, no final do século XIX, erigir uma praça em estilo mourisco, ou néo-arábe, como se lhe queira chamar. Permaneci na ignorância quanto ao vento oriental que lhe trouxe tamanha inspiração. Estava à espera de encontrar uma explicação baseada numa daquelas histórias fantásticas, como a que está na origem do Taj Mahal na Índia, segundo a qual o imperador o mandou construir em memória da sua mulher preferida.

Estas construções com cúpulas e traços misteriosos têm destas coisas, fazem-nos recordar as histórias de encantar que ouvimos em pequenos. O que é perigoso no meio de tantos prédios cinzentos da monotonia do dia a dia, da indiferença silenciosa que nos vai mirrando a alma aos poucos e do ritmo frenético e inútil que pauta o dia de existências que, na sua esmagadora maioria, nada têm, nem nunca hão-de ter, de original ou fantástico, de feliz ou de encantador.
E a praça de touros surge assim como a cenoura que o burro, em vão, com a obstinação cega de burro, tenta alcançar…

23 janeiro 2008

Bufos e bufas!

Com muito gosto aceitei o convite do Helder Figueiredo para escrever neste blogue, faço-o apenas na qualidade de autor e não quero ter qualquer responsabilidade na administração do blogue, pode ser que volte a editar o meu prório blogue, veremos.

Por sinal este tema dos bufos veio-me à cabeça a propósito de um comentário do Miguel Sousa Tavares, ontem na TVI, sobre a actuação da ASAE e das queixas anónimas e dissimuladas que esta polícia recebe e cuja actuação tem vindo a fazer a vida negra a toda espécie de agentes económicos.

O Barbaçana é de Alpiarça e gosta de escrever sobre temas de Alpiarça, ou sobre temas nacionais que directa ou indirectamente nos afectem aos alentejanos, alentejanos sim senhor, não se riam, porque devido a contingências de ordem financeira, europeisticamente falando, é claro, nós pertencemos ao Alentejo e como tal agora somos Ribo/alentejanos, veja aqui.

Bem, mas não era sobre alentejanos nem sobre anedotas de alentejanos que eu hoje me propus iniciar a minha colaboração neste blogue, o tema em epígrafe é Bufos e é sobre bufos que eu queria dissertar. E quando queremos escrever sobre algo o melhor que temos a fazer é pesquisar para não sermos apanhamos na primeira curva, como aconteceu, aliás, com aqueles ladrões encapuçdos lá do norte que numa curva se estamparam contra o jipe da própria GNR. Para pesquisar temos os dicionários, as enciclopédias, a wikipédia, o google e dezenas de motores de busca on.line que a Internet nos disponibiliza.

No meu velhinho dicionário da Lingua Portuguesa que já tem 38 anos de vida e que foi comprado na loja do Zé Fidalgo, que Deus já tenha em descanso muitos anós sem a nossa companhia, diz que bufa é assim como que uma coisa vil, má e desprezível, é um substantivo feminino (popular) que significa: ventosidade expelida pelo ânus, sem ruído. Quanto a bufo é uma coisa muito mais fina - é um substantivo masculino que tem vários significados: sopro forte e rápido, ave de rapina nocturna, comum em Portugal e também conhecida por corujão, mocho-real, pode ser um peixe também conhecido por papa-tabaco, ou então polícia, homem avarento, burlesco.

Cá pelas nossas bandas de Alpiarça, vila ribatejana agora mais aparentada com a vila alentejana de Baleizão (a tal da Catarina Eufémia) bufo significava aquele tipo sem escrúpulos que dissimuladamente escutava as conversas alheias, muitas vezes até do seu melhor amigo, e depois as ia "bufar" (ou seja expelia a tal ventosidade sem ruído) ao ouvido de um agente da GNR ou quiçá ao ouvido de um polícia da Pide.

Na actualidade e considerando que já passaram quase 34 anos em que deixamos de ter medo da PIDE, porque ela foi e bem escorraçada pelos Homens de Abril, eis que está bem enraizada e com ganas de se propagar e alastrar com grande pujança a "bufaria", e como espécie em grande pujança desenvolve-se no género masculino e no género feminino, e do seu cruzamento natural ainda resultam os "bufozitos", uma espécie mais fraquinha que vai deitando o seu pescocito e a sua cabecita de fora, de entre bufos e bufas, para ver se come algumas migalhas que a espécie mais velha, mais enraizada e mais poderosa vai deixando cair ao "comer".

Para finalizar, gostaria que alguém mais letrado do que eu, (que apenas tenho a 4.ª classe tirada em horário nocturno e porque o meu pai deu um porco ao director da escola), me informasse que nome se dá a uma senhora doutora fulana de tal, que dissimuladamente grava uma conversa com outra pessoa, que de seguida a cede a terceira pessoa, que por fim a usa, ou insinua que a vai usar, numa sala de audiências, num julgamento contra o primeiro, que ingénuamente conversava com a segunda, sem saber que estava a ser alvo de escutas e gravações ilegais.

Fumadores com mais 1 mês férias por ano!


Sou fumador. Infelizmente, mas sou. Já houve tempo em que fumei 40 cigarros ou mais por dia (+/- 2 maços). Agora fumo menos, talvez 15 cigarrilhas por dia.

Hoje, numa pausa pra fumaça, visto agora ser proíbido fumar nos locais de trabalho, fiquei curioso como isso iria afectar a minha produtividade e, indirectamente, a da empresa. Fui fazer contas e cheguei a uma conclusão engraçada (ou sem graça nenhuma):

- no final deste ano, comparativamente com o anterior, irei trabalhar, aproximadamente, menos 1 mês!.


Curiosos? Ora acompanhem-me lá nestas contas simples:

- imaginem o António, que fuma 8 cigarros durante o horário de trabalho (há quem fume bem mais, mas comecemos por baixo);

- para cada cigarro que fuma precisa de pelo menos 5 minutos (isto em condições ideiais pois há aquelas pessoas que têm que descer de elevador x pisos até vir à rua, entretanto encontram alguém conhecido, etc., mas, como disse já disse, comecemos por baixo)

- esses 8 cigarros/dia correspondem a 40 min/dia, 880 min/mês (22 dias úteis) e 9680 min/ano (11 meses úteis), o que é o mesmo que dizer 161h por ano.

- Ora, se um mês útil de trabalho tem 176h (8h/dia x 22 dias), e se o António passa 161h a fumar, significa que ele passa quase 1 mês útil por ano na fumaça. O que dirão os seus colegas quando souberem que ele tem um mês de férias a mais???

Pensem nisso.

Um abraço,
Vasco Gaspar

Ps:
não se esqueçam que há quem fume bem mais e quem demore muito mais tempo no intervalo para fumar. :)

22 janeiro 2008

Andar de Avião, nunca na vida



Por: António Centeio

Ainda pequenino, quando seus pais o levavam a passear até ao Paredão gostava de ver o mundo que o rodeava como tudo aquilo que o fazia funcionar. Às vezes perdia-se no tempo para que pudesse mirar o que mais lhe intrigava ou chamava a atenção Na tenra idade, quando tinha duvidas sobre o desconhecido, puxava as calças do pai para que este lhe desse atenção e explicasse por palavras fáceis de compreender aquilo que não sabia. Talvez por estas e outras razões bem cedo começou a mostrar um certa inteligência e um gosto pelo saber como «não pensar noutra coisa enquanto não descobrisse a causa da primeira».
Foi na longa avenida nazarena que pela primeira vez viu uma cigana perseguindo o pai para que lhe deixasse «ler a sina». Diálogo difícil porque o pai não acreditava nestas coisas de «sinas e muito menos na lengalenga das ciganas» que via neste método uma forma de ganhar a vida à custa da curiosidade ou ignorância dos outros, mas a mãe achou graça à desenvoltura da pequena nómada pedindo-lhe então que lesse as linhas das mãos do petiz.
O resultado foi que o casal durante semanas andou às avessas pelo que foi lido. Não levaram a coisa a sério mas Pedro levou. O resto da vida foi passado a remoer o que ouviu em criança. Nunca se esqueceu do que a saltimbanca lhe disse. «Nunca andes de avião porque se o fizeres morrerás». A partir do dia em que tais palavras foram ditas, quem pequeno foi e homem se tornou, fez os possíveis e impossíveis para nunca andar de avião.
De formação académica, dificilmente deixava alguém indiferente. Culto na convivência com os amigos estes espicaçavam-no para não acreditar no oráculo, o que aliás até lhe «ficava mal» visto ser um doutor famoso na região em cuja capacidade e talento os doentes confiavam plenamente.
Acreditava um pouco nas «partidas do destino» como nunca se esqueceu do «olhar esquisito da cigana» para além de «nunca devemos renunciar naquilo em que acreditamos». Por mais que tentassem convencê-lo a viajar de avião, a resposta era sempre negativa. Não bastasse, em termos de humor diziam-lhe os mais chegados «devemos olhar para traz e sorrir dos pesadelos passados».
Quando ia aos congressos da especialidade levados a efeito nos mais variados países usava todos os meios de transporte, menos o aéreo. Foi preciso um colega seu convidá-lo para ser padrinho de um dos seus filhos, cujo baptizado se realizou no Barlavento, para no fim de quase cinco décadas anos Pedro andar pela primeira vez de avião (Lisboa-Faro) .
«Quando se chega aos cinquenta anos, já se conhecerem todos os sentimentos fortes da vida e começa-se a ter outro distanciamento em relação da mesma» dizia-lhe o companheiro de viagem.
A viagem decorreu da melhor forma com o tempo passado na cavaqueira de detalhes profissionais. A situação do país também não deixou de vir à baila como discutiram os colóquios que se aproximavam porquanto tinha terminado a época de férias, altura em que os professores aliviam a agenda. Na mira, estava o mais importante, onde um consagrado neuro-cirurgião ia apresentar publicamente os resultados de um estudo.
O avião fez-se à pista e aterrou com normalidade, levando a que o colega e futuro compadre lhe dissesse que a sina afinal mais não tinha sido que «conversa fiada». Pedro e o amigo foram os primeiros a sair. Por razões desconhecidas ao descer o primeiro degrau da escada Pedro desequilibrou-se, batendo com a cabeça num degrau e vindo de seguida a rebolar pelos restantes, de tal forma, que teve morte imediata. Foi a sua primeira e última viagem e a revelação realizou-se.


O pequeno saltimbanco


Por: António Centeio


Porque a tarde outonal e a temperatura estava amena, fui à esplanada do Jardim para saborear um pouco daquilo que só este espaço de lazer sabe oferecer. Sentado numa mesa, olhava para as folhas que o leve Vento despregava suavemente das árvores. Algumas pessoas, também lá se encontravam. Umas, liam os jornais do dia, enquanto outras, conversavam dos mais variados assuntos, mas nenhuma contemplava a beleza e os contrastes da natureza.
Acompanhando o cair de uma folha do ramo de uma árvore, torcida pelo passar dos anos e de tão queimada estar do calor, os meus olhos seguiram todo o seu percurso. Quando se acomodou na terra fria, vi no meio de duas árvores uma pequena sombra de algo que parecia ser uma pessoa.
Continuando a olhar, esperei algum tempo para ver se não estava a ter alguma ilusão óptica ou se o perfil se deslocava. Nada aconteceu. Então, levantei-me e saí da mesa, para ir ver o que era ou quem era porque a rectaguarda do grosso tronco da árvore não me permitia destrinçar a verdade da ilusão sombria de um julgado perfil humano.
Voltado para a avenida, sozinho e encostado à árvore acastanhada estava uma fraca figura humana com pouco mais de doze anos, que passava despercebida aos menos atentos.
Perturbador, era o seu estado físico de tão magro estar.
Vestido com roupas todas desalinhadas e amarrotadas – talvez por dormir com elas em todos os sítios menos numa cama; com um cachecol de lã axadrezado no pescoço a aconchegá-lo, de cor castanha como a árvore que o amparava; sapatos a puxarem para o desleixado e a mostrarem que os seus melhores dias já há muito tinham acabado; os seus cabelos lisos, fininhos e alourados, não eram nem curtos nem compridos, simplesmente estavam oleosos e sujos; uma cara linda mas com uma cor torrada de tanto queimada estar pelo Sol para além de ressequida pelo Vento; orelhas transparentes pela claridade que nelas trespassava e um nariz achatado.
Com uns olhos azuis da cor do mar, uma pequena lágrima vinda do seu olho direito, evidenciava uma profunda dor e amargura – talvez por a vida não lhe sorrir; olheiras profundas, demonstravam que dormir e comer eram coisas há muito que seu franzino corpo necessitava.
No momento exacto que olhei para esta pequena figura de gente, senti a minha voz interior, dizendo “és um privilegiado da vida; vives num mundo diferente e nem sequer abrevias os passos apressados que dás durante o dia para pensares e veres como é o mundo destas crianças e tudo que o rodeia” É verdade! Reconheço que muitas vezes a correria da vida e o desejo de chegar mais depressa, impossibilita-me – aos outros também – de olhar para o que se passa mesmo ao meu lado. Esta voz interior mexeu bem dentro de mim. Levou-me a pensar que às vezes para encontrarmos o caminho certo temos que andar por caminhos errados.
- Quem és tu e porque estás sozinho aqui?
Olhando-me «olhos nos olhos» respondeu-me:
- Que tem o senhor a haver com isso?
Das suas palavras, compreendi logo na aspereza das mesmas, que a vida não lhe sorria.
- Queres sentar-te comigo, ali esplanada, que ofereço-te um copo de leite e umas torradinhas, porque pareces estar com fome?
Continuando a olhar-me, bem lá no «seu fundo» algo lhe disse que eu merecia a confiança que estava tentando conquistar, respondendo-me:
- Sim, aceito, porque tenho tanta fome, senhor. Já quase há quatro dias que nada mastigo.
Devorou tudo com satisfação o que lhe prometi e mais alguma coisa. Depois de ter conversado um pouco com ele, agora mais confiante, começou a «abrir-se» contando-me um pouco da sua atribulada e curta vida. A ingratidão da vida, o ambiente em que fora criado e a revolta interior, eram coisas que se reflectiam na nossa conversa.
Seu pai um músico saltimbanco (vindo e fugindo da miséria espanhola, veio para o nosso país, porque alguém lhe disse que “ em Portugal, ganha-se bem a vida pedindo esmola) explorava-o com o pouco que sabia tocar, já que tinha o dom de aprender com o ouvido. Um luxo demais para uma pequena criança, que bem sentia na pele, o preço de saber aquilo que nunca deveria saber.
Obrigava-o a tocar melodias tristes nos locais de grande movimento (tinha vindo de uma movimentada artéria das Caldas da Rainha) com uma «concertina» toda esfarrapada, para que as pessoas, dele tivessem pena e lhes dessem esmola, que por sua vez, tinha que restituir diariamente ao pai todo o valor obtido.
Quando não lhe davam o valor que o pai achava justo, a agressão e as ofensas eram coisas comuns na vida e ambiente familiar do pequeno, se ambiente familiar se pode chamar, a quem dormia dentro de um automóvel sem vidros, com bancos esfarrapados e apenas abafado por um pano roto e encardido de tanto ser usado. Para agravar mais a situação, o seu estômago já não recebia qualquer tipo de alimentação há alguns dias, porque não «trabalhou» para ter mais receitas, que o pai gostava de receber e precisava para gastar no álcool e tabaco, enquanto o seu rebento tocava na frente daqueles que sentados nas esplanadas das zonas de lazer, saboreavam os melhores acepipes, olhando-o com desprezo por estar descalço, sujo, roto e, ainda por cima, tocando músicas nostálgicas, quando na verdade queriam era: divertirem-se, pouco lhes interessando a miséria que na sua frente aguentava a passagem das tempestades.
Ainda hoje eu sinto na minha boca o gosto amargo das minhas lágrimas, quando o «pequeno saltimbanco» depois de satisfeita a sua avidez, com uns olhos ternos, mas tão cavados, olha para as profundezas da minha alma – até me arrepiei, tal era a sua convicção – dizendo “senhor, é tão triste estar a tocar e na minha frente ver as pessoas comendo e bebendo coisas que eu não sei o gosto que tem e pensar se algum dia terei o prazer que estavam a ter” para acrescentar docemente “ sabe quando pesa a concertina?” – claro que não sabia nem sei – “ às vezes, quando tocava, encolhia-me com dores na minha barriga com tanta fome”.
Porque as tardes no Outono são mais curtas e porque o nosso diálogo já ia longo, perguntei-lhe a razão de estar sozinho na cidade, para me responder “ fugi de meu pai e das arrebatadas que me dava todos os dias por não lhe dar o dinheiro que queria”. No momento, fiquei sem argumentos tendo em atenção a idade dele.
- Para onde vais agora? Sem dinheiro, sem documentos, sem conheceres os locais e tão pequeno que és?
Erguendo o seu curto tronco e olhando para o Céu, que tinha a cor dos seus olhos, disse-me:
- Nem eu sei! Não é por aqui que se vai para Fátima?
Não foi a pé para Fátima, como pensava ir. Levei-o no meu automóvel e deixei-o numa casa de crianças carenciadas e abandonadas.
Hoje sei, que está bem. Ali está e ali quer ficar; ali quer aprender a ser um homem justo, para que um dia “possa estar sentado numa esplanada vendo o seu filho a comer um gelado e não ver na sua frente um «pequeno saltimbanco”. Assim, se despediu de mim.

Qual a decisão correcta?

Olá a todos.

Antes de começar a "bloggar", gostaria de saudar os leitores do blog e agradecer o convite para participar neste projecto.

Ora bem, mas vamos ao que interessa: Qual a decisão correcta?

Uma pessoa muito chegada perguntava-me ontem, relativamente à sua decisão de ter mudado de projecto profissional, se teria agido correctamente, ou seja, se tinha tomado a decisão certa.

Na altura disse-lhe apenas que era uma incógnita, que só o futuro iria revelar se a decisão teria sido certa ou não.

No entanto, hoje no carro, ao vir para o trabalho, cheguei à conclusão que será sempre uma incógnita, pelo que a decisão correcta é sempre a que tomamos. Só essa tem sentido. Por alguma razão a tomámos, seja de forma mais emocional ou mais racional. Nunca sabemos onde a outra "estrada" iria dar.
Inconscientemente chego à conclusão que sempre pensei assim, mas que só hoje me apercebi disso.

Não sou daquelas pessoas que diz "não me arrependo de nada". Obviamente que me arrependo de algumas coisas. Mas o que é certo é que essas mesmas coisas também se calhar foram importantes para que não voltasse a cometer os mesmos erros. Por alguma razão tomei aquelas decisões e segui por aqueles caminhos.

O ponto chave prende-se com a aprendizagem que fazemos das decisões que tomamos, mas essas, acredito, são sempre as mais correctas.

Vasco Gaspar

21 janeiro 2008

O Banco do Povo... uma espreitadela ao futuro... que está mesmo ao virar da esquina

Comentário: É assustador como é que conseguimos reinventar-nos a cada instante. É por estas e por outras que deveríamos estar agradecidos por fazer parte da Humanidade.

HF

O Banco do Povo

Artigo de Horácio Piriquito
Publicado no Jornl OJE (ww.oje.pt) a 21.01.2008


NECESSITA de 5 mil euros para financiar as próximas férias ou de 10 mil para pagar um MBA? Para isso está disposto a pedir um empréstimo? Vai ao seu banco e pedem-lhe uma taxa de juro de 9%. Torce o nariz e rejeita! Dirige-se, então, ao seu computador, liga-se à Internet e avança com um pedido de empréstimo na rede. Informa que pretende os 5 ou os 10 mil euros pelo prazo de 12 meses e sugere a própria taxa de juro que quer pagar: 6%. Passam apenas dois dias e cerca de 15 pessoas respondem ao seu pedido e aceitam contribuir para esses valores, cada um com uma parcela diferente. Empréstimo conseguido. Tudo pela internet, financiadores e financiado nem se chegam a conhecer. A este novo fenómeno chama-se P2P Lending. Nasceu no Reino Unido, concede empréstimos pessoa a pessoa (P2P) e está a preocupar seriamente a banca tradicional um pouco por toda a Europa e EUA. Temos aqui mais um sector de mercado onde os intermediários estão a ser expulsos pelo cliente/consumidor final. Este modelo de negócio está a afastar os bancos e a ligar directamente pessoas com capacidade financeira, seja extra ou pontual, para investir e financiar outras que necessitam de comprar bens, serviços ou criar a própria empresa. A empresa britânica Zopa foi a pioneira neste tipo de empréstimos, em enorme expansão internacional. Curiosamente foi financiada no início pelos mesmos investidores que ajudaram a lançar a Skype e a e-Bay. A tendência deste movimento está imparável. Começou no Reino Unido, chegou à Dinamarca, Itália EUA e vai entrar ainda este ano em Espanha. Está a chegar cá…
A internet tem uma fortíssima componente social e uma enorme disponibilidade de informação financeira sobre particulares. Os financiadores também estão interessados neste negócio porque conseguem rentabilidades superiores aos depósitos ou aplicações mais tradicionais. Por outro lado, podem escolher a duração da sua aplicação, a taxa de remuneração e o tipo de projecto que querem financiar. Transparente e democrático, como (quase) tudo na internet. Mas podemos perguntar: como se consegue informação fiável sobre a solvência de quem necessita de financiamento? A Zopa, no início, criou uma rede de acordos com empresas especializadas, que confirmam informações sobre hipotecas, divídas e rendimentos mensais de quem solicita os financiamentos. Mais um “perfil” pessoal de cada consumidor disponível na internet. Sem esta informação, que permite segmentar históricos de crédito, rendimentos e respeitabilidades, o sistema nunca seria viável. O negócio deste modelo P2P passa pela cobrança de 0,5% de comissão aos investidores e 0,5% em cada financiamento. A julgar pelo boom deste mercado, pela experiência que se pode desde já retirar dos países onde cresce exponencialmente, parece que será só uma questão de tempo para este negócio entrar em Portugal e lançar o pânico no sistema bancário. É mais uma forma de aumentar, exponencialmente, o numero de ofertas de crédito fácil. E não há nada a fazer! Faz parte do futuro…

Despedimentos por via electrónica

Comentário:

As novas tecnologias podem trazer coisas boas, mas há sempre o outro lado da questão.
Neste caso é a utilização de SMS's para despedir e a tentativa de legimitar tal procedimento... pelo sim pelo não, em caso de dúvida vale mais desligar o telemóvel.


Despedimentos por via electrónica

SMS. Não é só nas relações afectivas que o seu uso tem levantado questões morais

Um dos primeiros casos de despedimento por SMS ocorreu em Inglaterra em Fevereiro de 2001 quando Zoe Halls recebeu uma mensagem do seu chefe a despedi-la. Estando em período de experiência na Highway Glass, ela não reclamou .

Em Abril de 2003, também a Austrália ficou a saber do despedimento de John Eid pela empresa JNI Traffic Control, através de SMS. O funcionário levou o caso para tribunal por questionar a validade do afastamento por via electrónica. O responsável pelo envio da SMS revelou que Eid se despedira recentemente, não se apresentava na empresa e tinha-lhe dito para não telefonar; a SMS era a única forma de contacto para formalizar o despedimento.

No mês seguinte, a seguradora inglesa The Accident Group enviou SMS para os seus 2400 trabalhadores a alertá-los de que não iriam receber os salários. O presidente da empresa de Manchester, que atravessava problemas financeiros e acabou por falir, acusou os então recentes administradores da consultora PriceWaterhouseCoopers por terem tomado aquela atitude. Esta respondeu com a mesma desculpa que em Fevereiro de 2004 a KEB Credit Service usou: uma das maiores empresas de crédito da Coreia do Sul despediu l60 pessoas por SMS e alegou que era a única forma de contactar os funcionários que iam ser despedidos.

Em 2003, um director de uma escola na Bélgica foi afastado através de SMS. Desde então, os despedimentos através de SMS parecem ter diminuído - a crer no número de notícias sobre o assunto. P.F.

Diário de Notícias
21.janeiro.2008

Como ser dono de um clube de futebol

Podemos estar a assistir a um novo modelo de gestão baseado nas potencialidades da internet...

Notícia publicada esta segunda feira, 21 de Janeiro no Jornal de Negócios

Como ser dono de um clube de futebol

Terminado o "due diligence", 27 mil investidores votam agora se devem aplicar 850 mil euros na compra de 75% de um clube inglês. O retorno? Votar no onze, no preço dos bilhetes e ser um mini-Abramovich

Filipe Paiva Cardoso

filipecardoso@mediafin.pt

Em seis semanas reuniram 500 mil libras (667 mil euros) e foram contactados por sete clubes de futebol ingleses. Dois meses depois, o fundo já ascendia ao milhão de libras (1,3 milhões de euros) e os alvos potenciais estavam reduzidos a três. Só um foi escolhido, tendo arrancado o processo de "due diligence" - investigação ou auditoria a um investimento - que ficou finalizado na última semana.

Agora, para que o negócio avance, falta o "ok" final da administração... composta por mais de 27 mil membros. A sociedade chama-se MyFootballClub (MyFC) e o alvo é o Ebbsfleet, 8º classificado da "Conference League", quinto escalão futebolístico em Inglaterra.

"Caro, os mais de 27 mil membros do MyFC estão a uma semana de comprar uma participação de 75% no Ebbsfleet United", avançou, a 16 de Janeiro, a "newsletter" de uma das mais democráticas iniciativas da Internet. "Entre na página exclusiva aos membros, conheça os detalhes da transacção proposta e vote até 23 de Janeiro se concorda ou não com o negócio'. A um passo do sonho.

Tudo começou com uma simples página da Internet onde todos os visitantes eram desafiados: "Quer ser dono de um clube de futebol? Quer votar no onze inicial? Decidir os preços dos bilhetes? E o patrocinador? É as contratações? Adira por apenas 35 libras (46,7 euros) e não tema: Um membro, um voto!" Mais de 27 mil entusiastas aceitaram o desafio e a ideia ganhou libras para andai; um milhão para ser mais exacto. E agora todos estão a dias de se sentirem na pele de um Abramovich, ainda que sem iates, petróleo ou Drogbas e Ballacks. Mas tudo a seu tempo.

O negócio

A primeira aplicação dos fundos reunidos serviu para contratar uma equipa jurídico-financeira para avaliar os clubes sugeridos pelos membros do MyFC, os clubes que se ofereceram e os que foram contactados. A lista inicial ficou reduzida a três alvos potenciais - por questões de preço, de dívida ou estatutárias -, dos quais acabou por ser seleccionado o Ebbsfleet como o ideal.

As negociações com os donos do clube arrancaram de imediato e, agora, os detalhes foram apresentados aos membros do MyFC: comprar 75% do capital por 635 mil libras (848,3 mil euros), a pagar em dois anos e incluindo a dívida, orçada em 70 mil libras (93,4 mil euros).

Depois dos detalhes sobre o acordo que está à espera de ser "assinado", seguiu-se o retrato financeiro do clube-alvo: défice mensal de 26 mil libras (36 mil euros), mas com os impostos todos "em dia" e um potencial de "merchandising" elevado com27 mil donos, serão vários os que deverão comprar camisolas do clube, por exemplo.

Mas a palavra à comunidade. Desde a divulgação dos termos do acordo, os membros do MyFC já deixaram mais de mil comentários nos fóruns exclusivos a propósito do negócio e nem todos foram favoráveis, pelo que a decisão que for anunciada a 23 de Janeiro não deverá terminar com uma eleição "à BCP" da era pós-Jardim.

Day-after

E se a compra for aprovada - necessita de maioria simples e, ao que consta, nem Joe Berardo, BPI ou Sonangol estão a "contar espingardas" -, o que acontece? Aí começará o sonho. Até Março serão disponibilizados uma série de vídeos aos membros do MyFC para que conheçam a fundo o plantel do Ebbsfleet, para depois poderem começar a votar "em consciência" no onze que irá jogar todas as semanas. Será também votado um novo presidente mas, no imediato, será colocada a julgamento a política de contratações de Inverno preparada pelo treinador do Ebbsfleet, Liam Daish, antiga estrela do Cambridge e Coventry e do futebol irlandês. Ficou com o "bichinho" ? Junte-se ao MyFC e sonhe... Não custa mais que 35 libras.

Análise SWOT (mas sem ameaças nem fraquezas)

Na avaliação dos clubes que levou à eleição do Ebbsfleet como o candidato ideal, a equipa jurídico-financeira contratada pelo MyFootballClub disponibilizou um retrato detalhado desta formação, ainda que as " forças e oportunidades" identificadas - que ocupam mais de metade do relatório final -, não foram avançadas, pelo menos com tanto detalhe, as "fraquezas e ameaças" do investimento.

Talvez para não assustar. Mas centremo-nos então no "lado positivo" do clube de Kent. O primeiro "bright side" nomeado foi a receptividade de dirigentes, adeptos, jogadores e treinador do Ebbsfleet para esta nova fase na vida do clube que poderá vir a ser comandado por mais de 27 mil pessoas.

O próprio acordo pré-fechado - "pagamento ao longo de dois anos" - dá a flexibilidade financeira para que a nova gestão "faça a diferença logo a partir do primeiro dia".

O contrato de cedência dos terrenos do estádio - mais 18 anos - e a infra-estrutura desportiva, que pode ser melhorada com financiamentos locais, são outras duas potencialidades deste clube de futebol.

O relatório estima ainda que a entrada do MyFC no capital do clube suscite a curiosidade e aumente as assistências/receitas médias dos jogos. As apostas na formação e numa equipa de futebol feminina garantem, desde logo, a simpatia da população local.

O último ponto positivo salientado prende-se com a localização do estádio - "a 40 minutos de Gatwick" -, numa zona perto do Thames que está em processo de recuperação, esperando-se que esta traga mais população e, logo, mais adeptos.

16 janeiro 2008

Eu e o Pai Natal de Chocolate

Ontem, quando cheguei a casa após mais um dia de trabalho árduo, pulei para a banheira, ansiando por sentir o dardejar da água na minha pele, varredora das pequenas depressões cinzentas dos dias em série fabricados pela nossa sociedade evoluída. O duche prolongado, perfumado pelo champô de framboesa e pelo gel de banho de papaia, dissipou, em parte, os odores pestilentos das vicissitudes do dia. Em seguida, os mil e um cremes que coloquei pela cara e pelo corpo, com massagens prolongadas pela preguiça do adiantado do dia, contribuíram também para a mudança da minha expressão, de carrancuda para sorridente. Seguiu-se um jantar saboroso, constituído por um apetitoso bacalhau à lagareiro. Tudo corria bem no conforto do lar.

Passadas umas horas, enfiei-me na cama, muito bem acompanhada por um livro do Asterix, que isto à semana não dá para ler livros muito profundos, propícios às insónias. Abri a gaveta da minha mesinha de cabeceira. O conteúdo da minha gaveta, apesar de me deixar extasiada de prazer, envergonha-me um pouco; como se fosse a minha arca de segredos, ela esconde a prova irrefutável das minhas fraquezas. Vou passar a explicar. A gaveta está atulhada de chocolates: uma caixa de bombons da Guylian, um chocolate da Hussel, três pais natais de marcas diversas, um chocolate da Nestlé, uma caixa de bombons da Milka, uns quantos Kit Kat, um Toblerone, dois chocolates da Cadbury e um conjunto de outros bombons com um nome esquisito, o qual não me recordo. A gaveta está a abarrotar: as minhas guloseimas acastanhadas não deixam espaço para mais nada. Há que constatar a realidade. Sou uma agarrada. Não me chuto, nem fumo, nem bebo (pronto, mentira, fumo e bebo ocasionalmente), mas sou uma verdadeira agarrada! Não vivo sem chocolate. É o meu único vício e, pelo grau de dependência, ainda bem, porque se fosse agarrada a outra coisa que não fossem os inofensivos grãos de cacau, estava tramada! Adiante. Começo a ler a minha banda desenhada e resolvo empanturrar-me com um dos pais natais de chocolate, cujo peso simpático de cento e sessenta e tal gramas é suficientemente convidativo e faz jus ao estatuto de gordo do velhote das barbas brancas, até então a repousar serenamente no paraíso dos doces que é a minha gaveta. Pensei para mim própria:

“ Não Sara, não o vais comer todo. É muito grande. Já jantaste uma sopa, dois pães com manteiga, queijo e paio, três postas de bacalhau, uma série de batatas, uma tigela gigante de alface e uma maçã. Já comeste o suficiente, ainda acordas a meio da noite com uma indigestão. É melhor comeres só dois bocadinhos.”

Seguindo os desígnios dos meus pensamentos, comecei por lhe arrancar a cabeça. Quem costuma comer pais natais de chocolate sabe bem o que custa desfazer tais espécimes. É um esquartejamento impossível de não deixar esses fragmentos abomináveis que são as migalhas. Fui evoluindo na minha refeição, guiada pela gula, normalmente uma louca só na mesa, mas que, desta vez, parecia também uma louca na cama, estimulada pelo apetite devorador de javalis do Obelix, especialmente entretido a caçá-los na minha leitura. Acabei com o pai natal e, julgava eu, com as migalhas que restaram do pai natal. Apaguei a luz; adormeci com a barriguinha cheia.
Hoje de manhã acordei com o despertador. Cheia de sono. A praguejar contra a minha vida. A arrastar-me para a casa de banho. Atrasada, como sempre. Enfim, o cenário habitual que, de tão habitual, qualquer dia bloqueia, qual disco riscado pela monotonia. Quando o pente se aventurou pelo emaranhado dos meus cabelos longos, belos, e perfumados do dia anterior, vacilou, como nunca é seu costume, e, contra tudo o que seria esperado, não deslizou por uma parte da minha cabeleira:

“Que é esta merda?!” – pensei eu, bêbada de sono e de espanto.

Levei então as mãos à cabeça e apalpei uma coisa mole agarrada ao cabelo, semelhante a pastilha elástica. Arranquei um bocadinho do pedaço de bosta que aquilo prometia ser, e o cheiro doce do pai natal de chocolate voltou a inundar a atmosfera. Tinha um pedaço enorme de chocolate ressequido a colar-me o cabelo!

“Fodasse, fodasse, fodasse, que é que eu faço agora?!”

Lavar o cabelo estava fora de questão, dado o adiantado da hora se me pusesse nessas andanças, só chegaria ao trabalho lá para as onze da manhã. Cortá-lo, nem pensar! Resolvi então arrancar o chocolate, passar parte do cabelo por água e encharcá-lo de perfume.

Escusado será dizer que a limpeza que empreendi foi tudo menos suficiente, o que, consequentemente, significa que hoje arrasto atrás de mim um cheiro doce que se vai parecendo cada vez mais com ovos moles estragados. Como tenho vergonha da minha dependência crónica, preferi dizer que o meu irmão entornou leite de chocolate por cima do meu cabelo, o que sempre é um argumento mais desculpável do que a realidade. Curiosamente, talvez porque o dia está mais perto do fim, não tenho vergonha de admitir tudo isto no meu blog. Vou-me debruçar sobre esta matéria daqui a pouco, enquanto procedo à deglutição, quiçá, de mais um pai natal de chocolate.

14 janeiro 2008

F

Férias na Nazaré
António Centeio

Era sempre a mesma coisa. No primeiro dia do sétimo mês de cada ano, ainda o Sol não tinha nascido, já o Aníbal mais o Alfredo aparelhavam os cavalos às carroças para de seguida descerem o curto espaço que mediava entre o palheiro e a entrada da casa principal. Os patrões iam de férias mais os dois filhos.
Tinham que carregar a trouxa e a alimentação para um mês, numa só carroça. Para além do condutor iam também duas empregadas domésticas. Tudo bem arrumadinho porque o espaço era pouco e a viagem longa. A outra, a mais bonita, era puxada pelo Russo um cavalo empolgante que até parecia sentir-se vaidoso por transportar os seus donos.
Quando a noite desaparecia e no longe se via a bola de fogo, que até parecia que o Céu estava ardendo, já a algum tempo que os seus dois fieis empregados os aguardavam. Partiam bem cedinho para que o calor não os incomodasse mas também para que a viagem decorresse durante a fresquidão da manhã.
Eram viagens longas e atribuladas, algumas tenebrosas, não pelas assombrações de malfeitores, mas pelo caminho da terra ressequida e pelas tortuosas curvas do percurso. Um caminho longo e difícil de fazer. Valia-lhes a confiança do animal que puxava a carroça da frente. O Russo inspirava confiança. Galopava as ladeiras que lhes aparecia pela frente para pouco depois nas descidas os condutores terem que puxar as rédeas
Quando o Russo avistava chão plano, não era preciso dar-lhe rédea solta. Levantava o seu pescoço para ver bem o caminho e numa sacudidela fazia tilintar os guizos. Era o seu momento empolgante. Os viajantes sorriam com esta euforia.
Era o momento em que o patrão tinha que segurar o chapéu, a patroa os filhos, os empregados os bonés e as empregadas deixavam o seu cabelo desfraldar como uma bandeira em dias de vento.
Dada ordem de marcha, tudo era composto nos devidos lugares para o ultimo a subir, ser o condutor da carroça da frente, já que era o empregado mais velho da casa e de confiança. A próxima e penúltima paragem seria nas proximidades de Alcobaça por escassos minutos. Não que quisessem mas porque os cavalos tinham ainda que fazer a viagem de regresso.
Chegados ao destino, no Picadeiro esperava-os a senhoria. Uma bela nazarena que gostava de receber com todas as mordomias quem acabava de chegar. Os empregados descarregavam a trouxa e demais coisas enquanto uma das empregadas levava as crianças para dentro da casa. A outra seguia imediatamente para a lota do peixe para comprar peixe que tinha sido pescado há poucas horas.
Logo tudo arrumado, seguiam-se as ordens de quem mandava determinar os deveres a quem servia. Uma das suas primeiras atribuições era preparar o almoço. Sardinha assada, assim mandava a tradição. Depois, esperar pela chegada dos banheiros que acompanhariam durante as férias toda a família. Cabia-lhes acompanhar ao mar, como vigiar, quem fosse tomar banho para depois de terminado os envolver em toalhões e acompanhá-los até à barraca, sendo dada especial atenção às crianças.
Todos os dias, depois do jantar, os esposos iam engalanados passear no Picadeiro e conversar um pouco com outros casais. Era o momento que as nazarenas mais gostavam porque as senhoras espalhavam no ar os mais variados odores perfumados e os seus belos vestidos.
A protectora das crianças seguia a alguma distância de quem lhe dava ordens. A outra ficava em casa esperando pela chegada de quem tinha saído. No dia seguinte seria o inverso. Os condutores das carroças regressavam de onde tinham partido para só voltarem no último dia do mês.

O velho Tobias


O velho Tobias foi sempre um homem estranho

António Centeio

Estranho é este homem, o Tobias, de hábitos e outras coisas. Levanta-se pela madrugada com o salpicar do Sol para antes de se sentar ao computador ir à cozinha buscar o cinzeiro como o resto dos cigarros que ficaram da noite, que ainda é noite, passando de seguida pela sala para se servir da sua primeira, ou última aguardente velha do dia ou da noite. Começa então a escrever no monitor prosas vindas dos confins da sua mente, ou sei lá donde, como que fosse a sua primeira necessidade básica do dia.
Ainda remeloso, já o monitor fumega por todo o lado por causa do fumo dos cigarros, fazendo com que as paredes da divisão estejam todas amarelas, como o seu velho bigode ainda está mais amarelo que tudo que o rodeia.
Não permite a ninguém (só lhe resta uma prima afastada e a velha Silvina, antiga ama e actual criada. A poucas pessoas, faculta a entrada, excepto escritores, que deixa enxergar alguns escritos ou deles quer saber opiniões) que entre na sua divisão sem a sua permissão ou presença, salvo a pessoa deste escriba, em que Tobias confia plenamente, já que ajuda quando pode e atura os seus desabafos ou pedidos sobre o que há-de ou não escrever.
Não o satisfaço apenas nas horas que inicia o seu trabalho como no que bebe e fuma, mesmo sendo obrigado a inalar o fumo daquela coisa mal cheirosa. Sendo resmungão como resmungões são aqueles que precisam de solidão para escrever compreende-me para ao mesmo tempo dar-me razão e, fazer-me a vontade.
Pelas prateleiras e espalhado pelo chão, milhares de livros, todos desarrumados ou ainda por catalogar, que me compete a mim, na qualidade de confidente aprendiz da arte de prosar. Aqui, pequenos apontamentos com anotações, livros abertos esperando por alguém que os leia; acolá, blocos com frases obtidas algures e enxertos do arco-da-velha.
Deita-se quando deveria almoçar, levanta-se quando deveria estar a jantar; alimenta-se de frutos secos, para raramente, sair dos aposentos e ir a alguma restaurante das proximidades. O madrugador incita-me a que, com ele, ande ou o aconselhe a visitar ou frequentar locais solitários para que a inspiração não o abandone.
Foi numa destas visitas que encontramos o “Solar dos Girões”. Depois, de termos percorrido “seca-e-meca e olivais de Santarém” para sabermos quem eram os donos, a fim de obtermos a devida autorização para o visitar, conseguimos num ápice de tempo a respectiva autorização. Ficou deslumbrado com o que viu – eu também. O “Solar dos Girões situa-se na localidade de “Carril” terra centrada no coração do Ribatejo em plena região vinícola. Tem mais ou menos sete hectares que aglomera: habitação jardins, quintais, pátios e uma pequena área rural onde existe uma mina de água, uma fonte, um tanque de rega e ainda uma zona rústica constituída por uma área de prados e por uma mata de sobreiros, alguns de grande porte. Existem ainda magnólias, árvores já centenárias. Em volta do edifício, propriamente dito, longos canteiros de hortenses embelezam a habitação, fazendo com que nas manhãs quentes, quando se abra a janela, se inale o aroma que das roxas flores vem. Entre a parte traseira do edifício e o quintal, um forte carvalho
Passados poucos meses, com artes e manhas – de um bom negociante, coisa que eu desconhecia em Tobias conseguiu dar a volta ao proprietário e comprar o mesmo.
Adora estar até às tantas sentado na secretária, escrevendo à luz do candeeiro aquilo que a inspiração lhe dita. Noutras alturas, senta-se no seu velho cadeirão olhando para as sombras do velho carvalho.
Tobias
como quase todos os escritores, tem destes devaneios, porque: mais do que o vulgo, sentem numa forma muito especial, que os percursos que fazem na vida têm um caminho final. Não é por acaso que está bem escarrapachada na sua secretária, em itálico, a sua frase preferida: «Após a morte, todos nos encontraremos no caminho das estrelas».


Profissão: Trabalhador do Conhecimento

Até hoje, e desde que recebi um mail a convidar-me a escrever para este Jornal, não tive qualquer outro tipo de contacto com os responsáveis pelo mesmo sem ser através da internet.
Como disse, recebi o convite por mail, e respondi da mesma forma, acertando com a pessoa que me convidou apenas algumas regras relativamente ao tipo de textos que iria escrever e os temas que iria abordar, bem como a forma como o pretendia fazer.
Tudo combinado, mensalmente pego num ficheiro de texto e escrevo algumas linhas, tendo a preocupação de, no final, a coisa andar mais ou menos pelos 5000 caracteres.
Nos prazos combinados (às vezes um bocadinho atrasado, confesso), remeto o ficheiro por mail para o Jornal, e passados cerca de 15 dias lá aparece tudo publicado.
Nem gasto tinta de impressoras, nem tenho outro registo físico que não seja um ficheiro electrónico com os vários artigos que vou escrevendo.
Será esta uma forma pela qual pode ser reconhecido “um trabalhador do conhecimento”?
Afinal de contas o que é isso?
Um livro publicado recentemente, cujo título é “Profissão: Trabalhador do Conhecimento”, do autor Thomas H. Davenport (Biblioteca EXAME), explora o conceito nas suas mais diversas vertentes, e é com base nele que pretendo reflectir em 2 ou 3 artigos o mesmo tema, com a vantagem de viver no dia a dia a realidade inerente a este tipo de trabalhadores.
Em 1988 tive a primeira experiência profissional, na fábrica da Compal em Almeirim.
Picava o ponto, trabalhava por turnos, e quando estava fora da fábrica, não tinha que me preocupar mais com o trabalho. Afinal de contas alguém tinha tomado o meu lugar, a linha de produção continuava o seu afã e nada mudava se em vez de ser eu, lá estivesse outra pessoa a fazer exactamente o mesmo trabalho.
Este é o tipo de trabalho que tende a desaparecer com a introdução de tecnologias que substituem o ser humano nas funções mais mecânicas e rotineiras.
Quase 10 anos depois, começou o advento da Internet (sim, eu sei que parece que sempre tivemos Internet, assim como telemóveis e multibancos), e nesse tempo começou então o desafio de digitalizar a nossa vida, ficando a coisa muito mais facilitada, não só do ponto de vista da qualidade de vida, mas também da rapidez e da mobilidade de cada um de nós.
Assim como hoje consigo desenvolver uma actividade sem ter qualquer tipo de contacto com os responsáveis pelo Jornal, também o consigo fazer a nível profissional com toda a parafernália tecnológica que temos ao nosso dispor.
Mas isto levanta algumas questões. Por exemplo, como é que os responsáveis pelo Jornal sabem que sou eu que escrevo mesmo os textos? Pode ser qualquer um, ou então posso ir á Internet e copiar um texto, dizendo depois que o escrevi. Até pode alguém fazer-se passar por mim e enviar os textos.
E se só estas questões já levantam uma série de dúvidas, imaginemos então o impacto que pode ter esta situação num ambiente de trabalho, em que podem existir equipas virtuais, com pessoas que nunca chegam a reunir-se presencialmente. Há umas semanas atrás, por exemplo, participei numa reunião que tinha pessoas de Inglaterra, Brasil, Argentina, Chile, Espanha, EUA, México, Irlanda e Holanda… todas juntas à volta de um telefone… e de uma apresentação comum, anteriormente enviada por mail para servir de guião à conversa.
É esquisito, mas a voracidade dos dias de hoje obriga-nos a utilizar novas formas de trabalho para as quais temos que nos adaptar e tentar perceber como uma inevitab ilidade.
O tema é complexo mas também é divertido. Este mês fica apenas esta introdução, para o próximo mês vamos explorar um pouquinho mais o assunto.

Movimento pela Reabilitação do Cine-Teatro de Alpiarça

Já o fiz no blog, e retomo o tema no “Voz de Alpiarça”fazendo um apelo às forças vivas de Alpiarça, à Autarquia, a todos os Alpiarcenses, REABILITEM O CINE-TEATRO DE ALPIARÇA.

Eu era muito jovem e lembro-me muito bem do fascínio que me causava o facto de ir ao cinema em Alpiarça aos Sábados à noite. Muita gente ia ao cinema, que chegou a ter lotações esgotadas nalguns filmes. Lembro-me dos cartazes nas vitrines laterais, e da bilheteira do lado direito à entrada. O bar era no primeiro andar, e enchia-se nos intervalos, para podermos beber um Sumol de laranja (no meu caso, claro) e comer umas pevides. Bons tempos. Ah, e acho que posso agora confessar uma coisa… eu conhecia o ‘lanterninha’ e por isso a maior parte das vezes não pagava bilhete - espero que este crime já tenha prescrito.

O edifício é hoje património de um particular, que teve o bom senso de manter o seu interior inalterado, provavelmente na expectativa de um dia tudo aquilo poder ser reabilitado.

Em Almeirim procedeu-se à revitalização daquele espaço. Na Chamusca idem, e isto só para falar nos concelhos mais próximos. E porque é que em Alpiarça não lançamos um movimento a favor da reabilitação do nosso Cine-Teatro?

As escolas do concelho poderiam lá realizar actividades, poderiam haver espectáculos de teatro, fixo ou itinerante, provavelmente até poderia ressurgir algum grupo de teatro amador, como já houve em Alpiarça. A juventude poderia dinamizar aquele espaço com actividades culturais que não encontram no nosso concelho um espaço com as condições que o Cine-Teatro tinha e poderá voltar a ter, não desfazendo do auditório da nova Biblioteca.

Está mais uma vez lançado o desafio...

Helder Figueiredo

Comentários, sugestões, insultos ou donativos para alpiarcense@gmail.com

Próximo tema:
Profissão: Trabalhador do Conhecimento (Continuação).

Informação

Para os interessados, informa-se que o último romance de António Centeio "Nascida Na Terra do Vento" encontra-se à venda em Santarém, na Livraria Costa ( próximo do Posto de Turismo) como poderá ser encontrado noutras livrarias. Para pedidos directos basta solictar o número de exemplares para: terradovento@sapo.pt

08 janeiro 2008

Avô...

Parece que já foi há muito tempo que vi o teu rosto empalidecer na curva da morte. No entanto foi apenas há dois anos e, obedecendo às leis anárquicas das recordações, o ressoar sonoro do teu riso, o brilho malandro do teu olhar e o ecoar meigo da tua voz, continuam a precipitar-se na minha memória com a intensidade dos acontecimentos recentes, que ainda não ultrapassaram a fronteira ténue que separa o passado do presente. Mais um embuste habilidoso da mente, desta vez ludibriando-nos ao ponto de nos querer fazer crer que a morada do tempo é, afinal, dentro de cada um de nós.

Pensei ingenuamente que algo iria mudar com a tua morte. Mas não. Os dias continuaram a suceder-se uns aos outros com a placidez do costume. Ao Inverno despido de cor, sucedeu-se o florir inebriante da Primavera e, aquiescendo às leis da natureza, o erotismo de Verão voltou a pulsar nos raios de sol e no céu azul que, passado pouco tempo, regressou ao seu estado acabrunhado, próprio do Outono. Descobri assim que o mundo nutre por cada um de nós uma indiferença atroz, confessada em surdina pela torrente imparável dos oceanos, eternamente alheios aos remoinhos que o sofrimento e que a saudade vão insuflando na alma humana.

De facto, o mundo continua igual desde a tua morte. Apenas em mim algo mudou. Foi quando o teu amigo telefonou, naquela tarde em que fiquei a tomar conta de ti, e ao qual tive de dizer: “Não, o avô não pode atender o telefone porque já não anda, já não fala e já não mexe nenhum centímetro do corpo a não ser, ocasionalmente, os olhos”. Foi quando me apercebi, precisamente, que os teus olhos viam e sentiam tudo, ao contrário daquilo que os médicos diziam (quiçá incompetentes, quiçá eternos exploradores), deixando antever para lá das suas circunferências castanhas a tua alma latejante da dor da resignação que, lentamente, foi dando lugar a um desprezo preenchido de dignidade. Foi no momento em que me consciencializei que já não ia presenciar nunca mais o teu riso sonoro, o teu olhar malandro e a tua voz meiga. Foi no dia do teu funeral, quando, entre dentes, parecias ainda sussurrar o “Vou ter tanta pena de vos deixar”. Foi quando comecei a achar que só suportava ver-te naquele estado moribundo porque sei que a tua vida sempre albergou o recheio da felicidade. E foi em muitas outras ocasiões que, por pudor, as palavras não deixam expressar, recusando-se a aparecerem no dicionário.

Desde então, passei a olhar a vida de outra maneira e vou reciclando diariamente o cubo assimétrico da minha realidade sob a batuta audaz dos sonhos e sob a certeza ímpar que o mais importante na vida são as pessoas que amamos, porque são elas que nos fazem continuar a deambular por aí muito depois do corpo ter sido depositado no forno crematório e de chamarem a um pote de cinzas o nosso nome. Tu, por exemplo, continuas a viver através de mim, não só nos genes que ditam o ritmo a que o meu corpo circula, mas também no meu espírito, inequivocamente moldado pelo convívio contigo.

Hoje em dia, sou eu que ocupo o teu lugar na mesa de Natal, nem pensar deixar o teu lugar desocupado à mercê do abismo infinito que é o vazio. E é assim que, com o repicar longínquo dos sinos da missa do galo a segregar lembranças de tempos idos, vou sendo invadida pelas saudades. Quem me dera que estivesses aqui para poder partilhar contigo o meu riso sonoro, para que pudesses vislumbrar o meu olhar malandro e para ouvires o entoar meigo da minha voz…

“É assim a vida”, dizem. Acaba na morte, eu sei. De resto, não sei bem o que hei-de pensar dela. Mas sei que espero vir a reencontrar-te num lugar mais perfeito do que o mundo.

03 janeiro 2008

Coisas da Vida

A Velhice

Por: António Centeio

Opinavam no Jardim três idosos e sábios argumentistas. Um que a “velhice é uma forma simpática da vida nos dizer que estamos a caminhar para o fim”; o outro “quando morre um velho arde uma biblioteca” e o outro “o homem só é velho quando as lamentações começam a tomar o lugar dos sonhos”.
Toda esta sabedoria vinda de quem vinha, emocionou-me e fez com que frases como estas me permitissem perceber e saber a estranha lógica das coisas e dos acontecimentos para depois as transformar em crónicas. Talvez sejam estas situações e estes dizeres que fazem de mim um permanente utilizador deste espaço de lazer.
É no Jardim que me inspiro para escrever esta coluna de bem (ou mal) dizer, como nele: ouço, escuto e vejo aquilo que só os idosos sabem contemplar para depois poder transmitir.
È neste Jardim que às vezes a minha alma se entristece ou se transfigura, para de seguida, sentir a tão desejada inspiração. Nunca compreendi tal razão, mas penso que é por causa do espaço e de tudo que o rodeia como dos aromas das flores que lá estão e do cheiro da terra que brota para o ar ou do chilrear dos passarinhos que nas suas manhas de sobrevivência nos dizem que vemos o que é estranho mas não reparamos no que é normal.
Agora mais do que nunca, talvez por as folhas começarem a cair ou por a bola de fogo estar tão longe, sinto-me aconchegado, junto de quem tanto sabe pelos anos passados e pela experiência adquirida, fazendo com que possa ver as coisas como nunca as tinha visto ou ouvido.
Nada então, como sentir a terra, tão de si pisada e as vozes de quem tanto sabe - por tantos anos já sentir no corpo - mesmo que alguns sejam como aquelas árvores que quando são fortes não partem, só abanam.
Não que eu seja idoso – longe de tal – mas no vaguear desta zona verde e nas margens do rio, seduz-me a presença e a companhia de quem tudo sabe mas pouco diz. O suficiente para às vezes quando estou sentado nos bancos do Jardim a pensar que no horizonte o Céu toca no planalto da cidade. Pura ilusão!
É nesta procura de inspiração que a nostalgia me invade para me sufocar numa aflição que não me deixa dizer o que sinto. Razão, talvez, desta crónica ser mais filosófica que as passadas ou futuras.
Nesta bela terra mágica e encantada do Jardim calcanhada que está por passarem mil pés em cima dela, sinto-me como uma folha no Vento e como o Vento, onde tudo retornará ao que foi, mesmo que as mutações me impeçam de tal. Afinal a idade dos sonhos nunca acaba. Não fossemos nós incertos na natureza mesmo quando a escrita tem razões que o próprio escriba desconhece.
Aqui, sei às vezes, também por intermédio dos idosos, do que aconteceu ou do que vai acontecer, ouvindo o que dizem ou do que lêem nas estrelas, porque ler nas estrelas, só os sábios e conhecedores sabem. Razão tinha o idoso que disse “quando morre um velho arde uma biblioteca”.

Comentário:

Muito obrigado pela colaboração.

Cumprimentos,

HF

02 janeiro 2008

Americano 'envia' cartões de Natal depois de morto

Fonte: Site da Rádio M80 em http://m80.clix.pt

Conhecido pelo seu sentido de humor, Fitch morreu no passado mês de Outubro, aos 88 anos, mas deixou uma surpresa preparada: 34 cartões de Natal começaram a chegar nos últimos dias, escritos à mão pelo morto. No lugar do remetente, o endereço 'paraíso'.

A mensagem diz: «eu perguntei ao Supremo se poderia voltar rapidamente e enviar alguns cartões. Da primeira vez, ele disse não, mas com minha insistência, finalmente disse: ah, ok, vá lá, mas não se demore! É melhor eu não abusar. Desejo-te um Feliz Natal. Chet Fitch».

Agora, como é possível? Pois os cartões foram uma partida que Fitch combinou há mais de duas décadas com a sua cabelereira, Patty Dean, 57 anos, que cumpriu o desejo do amigo. Mistério esclarecido!