28 fevereiro 2008

O Viver, o Como Viver, e o Porquê de Viver

No outro dia pus-me a pensar… Ultimamente são raros os dias em que acordo com aquela disposição exuberante e sonora do “querer viver”. Do “querer viver” a sério. Do pular da cama com a energia nos píncaros. Do ansiar por ouvir a música que surgiu subitamente sob a forma de um murmúrio. Do querer desesperadamente encontrar aquela pessoa. Do ter vontade de mergulhar fundo nas entranhas do mundo e revolvê-las com a pressa de chegar ao outro lado de mim que está escondido atrás de um dos biombos do futuro. Do conseguir sonhar com a rapidez do antigamente. Do olhar o sol e ver nele a promessa de um dia feliz que me vai embalar e fazer adormecer com o conforto de saber que vivi, que não está a ser em vão… Sinto saudades daquela alegria que costumava ser a minha e que parece que tropeçou e se perdeu numa das pedras da calçada que percorro, invariável e diariamente, para chegar ao trabalho.
A maior parte das vezes arrasto-me pelos dias com o vagar soturno de quem não está muito preocupada com a finitude da vida. Pura mentira. Estou. Ao contrário do que os meus gestos afogados na imensa e cinzenta repetição deixam transparecer. Porque é que tem de ser assim? Porque é que os dias têm de ser moldados com a rigidez das 9 as 7? Porque é que o disco das horas não dá para pôr no stop, fazer fast forward ou rewind? Se a vida não deixa marcar horas para sonhar, para amar ou para ser feliz, porque raio tem de marcar horas para trabalhar? Será que todos os que vagueiam nas pedras das calçadas por este planeta afora sentem o mesmo que eu? O mesmo sufoco pardo da prisão? O mesmo desespero pela falta de escolhas? A mesma urgência por uma vida diferente? Tento perscrutar nos seus gestos, no seu olhar, na expressão quase imperceptível que lhes anima o rosto cada vez mais enrugado. Conformação. A conformação transpira abundantemente em todas as esquinas do mundo. Chego a invejá-la. Ela nunca me bateu à porta com o ramo florido da tranquilidade. Apenas acena esporadicamente à janela com um adeus desgarrado pela certeza de que nunca irá ser minha.
O que levamos, afinal, da vida? Um título pomposo no emprego, um punhado de conhecidos com quem partilhamos pouco mais do que o bater dos teclados e a luz ofuscante do computador, um ordenado com quatro dígitos no final do mês? Um retrato em família (a nossa, não a dos companheiros da jaula dos dias)? Um sonho que votámos ao abandono e que, de repente, desatou a perseguir-nos com a faca afiada da frustração? Uma paixão de uma noite? Um amor de uma vida inteira? Um momento no esgoto do tempo? Um instante cravejado de diamantes? Um álbum de fotografias amarelecidas pelo vazio do irrepetível? Uma casa à beira mar onde nos desenrolámos com as ondas e demos à costa em formas impensáveis de conchas? Um compromisso com o futuro a cumprir pela mão incerta dos filhos (os que já temos ou os que ainda não tivemos ou os que nunca iremos ter)? Torno a perguntar,.. O que levamos, afinal, da vida? O que é que é importante agarrar com a determinação do imprescindível e o que é que é importante deixar fugir? O que é que é importante esquecer e o que é que importante trancar na memória? O que é que é importante fazer e o que é que mais vale deixar eternamente por realizar numa cama desfeita por consecutivos amanheceres?

27 fevereiro 2008

Para a geração dos 30/40 anos

Artigo original do Nuno Markl (Recebi por mail, portanto não sei onde foi publicado)

A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida. E está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os trinta. O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando lhe falei no Tom Sawyer. "Quem?", perguntou ele.
Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu Deus... Como é que ele consegue viver com ele mesmo? A própria música: "Tu que andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui e além...", era para ele como o hino senegalês cantado em mandarim.
Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não conhece outros ícones da juventude de outrora. O D' Artacão, esse herói canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Sebastien et le Soleil, combatendo os terríveis Olmecs; Galáctica, que acalentava os sonhos dos jovens, com as suas naves triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que dava curvas a noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super Mulher, heroína que nos prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas, lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical, não é a mesma coisa. Naquela altura era actual... E para acabar a lista, a mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração:
O Verão Azul. Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer.
Quem não chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, meu Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada.
Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não passaram, o que os torna fracos: Ele nunca subiu a uma árvore! E pior, nunca caiu de uma. É um mole. Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser duplo de cinema. Ele não se transformava num super-herói quando brincava com os amigos. Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos nas obras e que depois personalizávamos.
Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra. Ele nunca roubou chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma canção. Confesso, senti-me velho...
Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador. Tudo bem, por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, em que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft.
Óbvios, nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros.
Hoje, se um miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e fazer exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa fazer tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído. Doenças com nomes tipo "Moleculum infanticus", que não existiam antigamente.
No meu tempo, se um gajo dava um malho muitas vezes chamado de "terno"
nem via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra espalhada por cima não estancasse.
Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas, porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos. Um gajo na altura aprendia a viver com o perigo. Havia uma hipótese real de se entrar na droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para a praia. E sabíamos viver com isso. Não estamos cá? Não somos até a geração que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade? E ainda nos chamavam geração "rasca"...
Nós éramos mais a geração "à rasca", isso sim. Sempre à rasca de dinheiro, sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na universidade, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o carro. Agora não falta nada aos putos.
Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se juntar e para servir de presente de anos e Natal, tudo junto.
Hoje, ele é Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo.
Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela versão da bicicleta.
Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu que 8 em cada dez putos sejam cromos. Antes, só havia um cromo por turma. Era o totó de óculos, que levava porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas.

É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma empresa de computadores, mas não curtiu nada.

Nuno Markl

24 fevereiro 2008

A melhor análise à entrevista do Primeiro Ministro na SIC

Para mim, este foi o texto que fez a melhor análise da entrevista com o Primeiro Ministro esta semana na SIC.
O texto está publicado no jornal Meia Hora de dia 22 de Fevereiro.


Diz que é uma espécie de entrevista


Já sabia que os Gato Fedorento tinham assinado pela SIC. Só não sabia que as emissões tinham começado na passada 2ª feira
O Ricardo Araújo Pereira fica bem de laço e óculos: – “Dá-me licença
que pergunte, Sr. Primeiro-Ministro?” “Peço desculpa pela pergunta Sr. Primeiro…”
As cheias tinham sido o tema do dia. Áreas metropolitanas alagadas, vidas perdidas, casas e lojas completamente destruídas e o Ministro do Ambiente a
chutar a responsabilidade para cima das câmaras municipais.
“Cheias? Quais cheias? Alguém falou em cheias? Só se pode perguntar sobre o que
estava combinado. Veja aí no papelinho. Fala aí de Cheias?
Vê, se não fala de cheias não pode perguntar…” A mesma coisa com o desemprego.
O desemprego atingiu uma taxa de 8% que não se via desde os anos 80.
“Desemprego? Que desemprego? Nos temas que tínhamos acordado falar só estava o
emprego. Ah! Do emprego eu falo. Já criámos 90.000 postos de trabalho” – “Mas
Sr. Primeiro-Ministro, e a taxa de desemprego?” – “Lá estão vocês… Nós não tínhamos
combinado falar do desemprego, era só do emprego. Do emprego eu falo. Já criámos
90.000 postos de trabalho.”
Poder de compra.
Quem recebe a pensão mínima perde, pela 2ª vez, poder de compra.
As famílias médias perdem, pela enésima vez, poder de
compra e onde estão as perguntas?
“Não, poder de compra não estava combinado para falar. Só se fala dos temas
que estão aí no papelinho. Está aí poder de compra? Não. Então não falo.”O regresso dos Gato à SIC é bem-vindo.
Mas, não sei porquê, não me deu vontade de rir.

Pedro Mota Soares
Deputado

23 fevereiro 2008

Un dia invernoso fez com que se salvasse uma criança

Por: António Centeio


O dia está chuvoso e frio. A chuva incomoda-me. O frio quebra-me os ossos. Ando encolhido sem saber a razão. Olho para o Céu e vejo tudo escuro. O Vento teima em não dar forma certa de cair a chuva. Não sei o que fazer. Apenas sei que me apetece ir para a rua aproveitando o espaço livre pela falta de quem anda todos os dias na rua quando o Sol brilha.
Resido num andar situado no meio de uma longa avenida que me permite ver extensamente parte do que a rodeia ou dela faz parte. Às vezes até me deixa ver aquilo que não devo ver, porquanto na escuridão da noite, algumas janelas iluminadas no seu interior, permitem ver o que não espero e muito menos pretendo. É para mim, a melhor avenida da cidade, cujas noites de Verão me fazem calcorrear os longos passeios da mesma, quer para cima quer para baixo, quando no silêncio da noitada faço as minhas caminhadas.
Mas neste dia invernoso algo se apodera de mim e tenho que ir para a rua. Algo como um pressentimento que só a natureza nos sabe fazer sentir. Penso duas vezes o que devo fazer para ao mesmo tempo confessar a mim próprio, que no momento da decisão, detesto ter incertezas ou dúvidas, mesmo sabendo muitas vezes que estas duas coisas, para além de distintas, são na verdade, a solução do problema que me apoquenta.
Corro os cortinados, desligo a luz e visto o meu impermeável que me irá proteger de algum imprevisto. Levo também o meu chapéu-de-chuva e faço-me ao caminho. Começo a descer a Avenida, também conhecida como “Avenida doPatacão”. Das sacadas, pinga gotas de água grossa. Olho para esta ou aquela montra que no escuro embelezam o local com as mais variadas cores.
Como o dia está invernoso os carros circulam menos para o silêncio acompanhar-me com a possibilidade de elevar o meu pensamento para o desconhecido enquanto ouço a chuva a cair na calçada. Olho para uma ou outra montra mas o conteúdo comercial não prende a minha atenção por causa da época consumista que a sociedade atravessa.
Continuo a descer a artéria. Sem dar pelo tempo passado e pela distância percorrida começo a ouvir o rebentar das ondas. Estou próximo do mar. Entro na avenida lateral a que também chamam de “ Avenida da Praia”, talvez por esta dar acesso ao longo areal que no “período alto” atrai milhares de pessoas. Na minha frente vejo o mar, cuja água revoltosa me faz sentir como o mais pequeno grão de areia que não encontra lugar para se resguardar da fúria do Vento.
O furor do mar teima em galgar o paredão. Pouco falta para chegar ao asfalto. A chuva cai copiosamente por tudo que é sítio. As palmeiras situadas a meio da via fazem um ruído de arrepiar. Dobram-se mas não se quebram. Parece o fim do mundo. As depressões da estrada, com a água que vêm das nuvens, criam pequenos charcos de lama, tirando a visibilidade do asfalto. Não bastasse, até a claridade do dia se tornou numa escuridão. A chuva grossa teima em cair aos turbilhões do Céu.
Reparo então numa pequena figura que se encontra sentada em cima da relva que envolve as palmeiras espalhadas ao longo da alameda. Está dobrada com a cabeça entre as pernas. Aproximo-me desta pobre alma, olhando para o seu tronco. Quando me dobro para a chamar e ver a sua cara, um automóvel passa por cima de um lençol de água. Quase me encharca todo. Fico sem visibilidade alguma, tanta foi a quantidade de água que levei na cara e ainda por cima mal cheirosa.
Limpo a cara com o braço para de seguida abanar o corpo de quem desconheço. Levanta a cara e vejo um rosto feminino que de tão formoso ser encanta a minha alma. Quando a olho bem de frente assusto-me por causa dos seus olhos esbugalhados para de seguida me entristecer pela situação e local em que se encontra.
Como dois perversos, conversamos um pouco enquanto a chuva começa a encharcar-me por causa da posição e local. Por causa do Vento, pouco percebo do que me diz. Convido-a a sair de onde está. Aceita o meu convite e puxo-a pelo braço para baixo de uma varanda que se encontra no sentido oposto ao que estamos. Pergunto-lhe quem é e «porque está neste local num dia como este?». Não sabe justificar a razão. Apenas me pede que a leve para junto do filho. Explica-me onde se encontra. Logo informado do local, a sorte está do nosso lado. Um táxi passa neste momento. Faço-lhe sinal e dentro do mesmo seguimos imediatamente para onde a infeliz indica.
Um carro está enfeixado entre dois enormes pedregulhos que protegem o cais portuário. No seu interior, uma criança está presa no banco. Não apresenta sinais de ferimentos. O taxista aconselha a que se chame os bombeiros e autoridade visto que a jovem tem dificuldade em explicar-se, pedindo-nos apenas que «salvem o meu filho». A criança segue para o hospital e a mãe para o posto policial.Poucas horas depois sei que a «criança está bem» segundo informação do hospital, como sua mãe está acusada de «causadora de um crime» já que pretendeu suicidar-se, tentando levar para o abismo, como companhia, o seu único filho.

Desempregado = Coitado ???

Ontem, ao ler os comentários a um post pensei na condição de desempregado, dos Centros de Emprego, e dos subsídios de desemprego.

Nunca estive nessa situação, a de desempregado. Não por motivos atribuídos à sorte, mas porque nunca quis.

Considero que "desempregado" é mais um estado psicológico do que um estado social.

Não tenho muitos anos de experiência profissional mas, a certa altura da minha carreira, fartei-me do tipo de profissão que tinha e decidi rescindir contrato e procurar algo que fosse mais ao encontro das minhas ambições.

Entre a altura em que me despedi (ou em que despedi os meus empregadores) e o novo desafio profissional decorreram 4 meses. Para a maioria das pessoas, eu estava "desempregado". Mas a minha perspectiva era outra: estava "à procura de emprego".

Ao mesmo tempo, estava também como "freelancer", realizando alguns "biscates", uns dentro da minha área, outros em tarefas de "baixo valor acrescentado" (coitado de mim, diriam alguns, um Dr., como muito se faz questão de dizer em Portugal, a fazer este tipo de tarefas).

Sou Psicólogo Organizacional e estive alguns anos ligado à área do Recrutamento & Selecção. A grande maioria do tempo era passado a analisar pessoas candidatas a empregos. Passaram-me alguns milhares de currículos pelas mãos e fiz largas centenas de entrevistas pessoais. Nunca recrutei ninguém "desempregado". Procurei sempre pessoas "à procura de emprego".

É tudo uma questão de atitude.

De que me serve contratar uma pessoa cheia de habilitações mas vazia de atitude? O contrário, já não é bem assim, pois a pessoa com atitute, mesmo sem habilitações, está sedenta de aprender e de evoluir. De crescer continuamente, agarrando as oportunidades que surgem e que ela própria cria.

Além desta conclusão (de recrutar pela atitude), cheguei a outra conclusão: - qual é o último sítio onde procurar pessoas para trabalhar? Se respondeu "Centro de Emprego" acertou na resposta!

De todas as pessoas que entrevistei provenientes desta fonte (e foram muitas, acreditem), apenas recrutei uma. É verdade. Uma pessoa apenas. Preconceito? Claro que não. Eram avaliados de forma isenta, como todos os outros. A diferença é que os outros não vinham para os processos de selecção pedir-me para assinar o papel que lhes permitia provar ao Centro de Emprego que não eram válidos para a função e, assim, poderem continuar a receber o Subsídio de Desemprego.

"O quê?? Ganhar o mesmo, ou pouco mais, do que ganho com o Subsídio de Desemprego e a ter chatices ainda por cima? Prefiro ficar em casa e ainda faço uns biscates por fora! Se o Dr. me pudesse assinar o papel...".

Quantas vezes não houvi esta frase de pessoas desempregadas (social e psicologicamente) perante a proposta de empregos válidos, em empresas válidas? Foram várias as vezes.

Pessoalmente prefiria ganhar menos 100€ num trabalho (mesmo que de "baixo valor acrescentado") do que mais 100€ pelo Subsídio de Desemprego para estar o dia todo em casa a comer bolachas e a dizer "coitadinho de mim que estou desempregado". O único ponto em que iria crescer era em tamanho, devido à gordura acumulada.

Já nem entro na discussão do modo de funcionamento dos Centros de Emprego, pois aí tinha que escrever mais 3 posts só com as histórias macabras que me aconteceram.

Desempregado? Acredito, sem dúvida, ser um estado de espírito.

21 fevereiro 2008

Tá mal

As diversas campanhas a favor da reciclagem dos lixos têm vindo a dar os seus frutos.

Hoje em dia, já são as nossas crianças que, resultado de um esforço concertado de educação ambiental desde o ensino pré-escolar, empurram muitas vezes os Pais para comportamentos ambientais mais responsáveis, nomeadamente através da separação dos lixos.

Não sei quantos ecopontos existem em Alpiarça, e muito menos quem é a entidade responsável pela recolha dos lixos separados.

Pessoalmente utilizo o ecoponto junto à antiga Coopertiva Alfredo Lima, e raramente encontro os contentores em condições.

Não há possibilidade de fazer a recolha com mais frequência?

Além do mau aspecto que dá ter o lixo fora dos contentores, já não é a primeira vez que vejo pessoas a remexerem nos lixos que por falta de espaço dentro dos contentores ficam depositados do lado de fora, no chão.

Vá lá, será que custa assim tanto 'olear' esta peça da engrenagem da reciclagem para que possamos todos ter um bocadinho mais de responsabilidade ambiental e deixar um futuro mais equilibrado para os nossos filhos?


alpiarcense@gmail.com

20 fevereiro 2008

MANIFESTO PRÓ-DITADURA

Portugal caíu num caos de desgovernação, cada vez mais pessoas clamam por um Salazar para governar a Pátria, para todas essas pessoas que clamam o ressurgimento do Salazar eu proponho a criação das seguintes medidas apenas durante uns meses, durante a actual governação, para que possam viver "à moda de Salazar", no final da experiência veremos quem resiste viver assim e quem quer voltar (apesar de tudo) à nossa periclitante democracia.

MANIFESTO PRÓ-DITADURA

1.º - Institucionalização do Partido Socialista como único partido nacional e ilegalização de todos os outros partidos;
2.º - Criação de uma polícia política que prenda todo e qualquer cidadão que se manifeste ou fale contra a política seguida por José Sócrates, ou que se queira associar em qualquer partido que não o Socialista;
3.º - Criação da Autoridade Nacional para a Censura que previamente leia toda e qualquer notícia que saia nos jornais, rádios e televisões e todo e qualquer livro incluindo os de ensino;
5.º - Proibição de Sindicatos ou de qualquer outra instituição ou organismo que de alguma forma lute pelos direitos dos trabalhadores;
6.º - Fim de eleições livres, só votarão as pessoas devidamente autorizadas pelo Governo;
7.º - Proibição do voto às mulheres, as mulheres são para estarem em casa, satisfazerem os desejos sexuais dos parceiros, parirem filhos e criá-los;
8.º - Fim de toda e qualquer reforma ou aposentação, os velhos terão de sobreviver com aquilo que amealharam durante a vida, se não tiverem dinheiro para comer vão pedir esmola;
9.º - Fim dos lares da terceira idade e centros de dia, os filhos é que têm a obrigação de tomar conta dos pais quando eles chegam a velhos;
10.º - Fim de jardins-escolas e creches, as mães não podem nem devem trabalhar porque têm de ficar em casa para tomar conta dos filhos, cuidar da casa, lavar a roupa e fazer limpezas e gerir o orçamento familiar com aquilo que o marido lhe destina ao fim do dia, da semana ou do mês;
11.º - Fim do direito a Férias, Subsídio de Férias e de Natal, temos todos de trabalhar quanto mais melhor, nem que seja 60 0u 70 horas por semana, o país precisa do vosso trabalho;
12.º - O ensino será facultativo, só mandará os seus filhos para a escola quem puder, quem não puder mandem-nos trabalhar, o trabalho é honra e pôr a malta nova a trabalhar é acabar-lhes com os vícios;
13.º - Fim dos vínculos laborais, todo o trabalhador trabalhará apenas ao dia, se o patrão achar que ele não serve, paga-lhe as horas que ele trabalhou, põe-no na rua e contrata outro;
14.º - Fim do direito ao subsídio de desemprego, em Portugal não há desempregados, os desempregados são uma cambada de parasitas que não querem trabalhar e vivem à custa do dinheiro do Estado e dos contribuintes;
15.º - Fim do Abono de família e outros abonos ou prestações sociais, as famílias têm obrigação de controlar os filhos que podem criar, no caso de necessidade recorram às Misericórdias e às esmolas e ajudas de terceiros;
16.º - Termo ao Ordenado Mínimo Nacional e à negociação colectiva, cada patrão é livre de contratar com o empregado o ordenado que pode pagar a cada um e é o patrão que estabelece o horário que melhor serve os seus interesses;
17.º - Fim à livre circulação de pessoas e bens, ninguém pode atravessar as fronteiras portuguesas sem o competente visto e autorização das autoridades;
18.º - Fim aos bares e discotecas e a outros antros de perversão e perdição, nenhum bar pode fechar depois das 24HOO;
19.º - Destituição de todos os presidentes de câmara e vereadores e vogais de assembleias municipais, a partir de agora os presidentes de câmara e vereadores serão escolhidos pelo governo e não terão qualquer remuneração;
20.º - Acesso condicionado à Internet e a todas as formas de comunicação onde de algum modo os cidadãos interfiram com a autoridade do Governo e do Estado.

15 fevereiro 2008

Uma luzinha ao fundo do túnel

Há uns anos atrás o Helder Figueiredo "dono" deste blog publicou aqui e sem medo um artigo relativo ao meu despedimento intempestivo da câmara municipal de Alpiarça, onde já trabalhava desde 2 de Janeiro de 1981, em virtude de ter alertado os meus superiores hierárquicos para a utilização indevida de alguns computadores da autarquia para visitar sites pornográficos e receber e.mail de sites pedófilos.

Agora na qualidade de autor-convidado de O Alpiarcense venho utilizar este espaço para dar a conhecer aos leitores do mesmo, que finalmente, após ter sido suspenso preventivamente de funções de técnico informático da câmara de Alpiarça,por 90 dias, desde 9 de Fevereiro de 2004, por deliberação de 07/02/2004, portanto há mais de 4 anos e à qual não mais voltei, foi finalmente proferido um ACORDÃO do Tribunal Central Administrativo Sul em 31/01/2008 que obriga a câmara municipal de Alpiarça a readmitir-me e a pagar-me alguns vencimentos em atraso.
Mas a guerra não termina aqui, ainda falta a sentença sobre a pena de demissão que veio a seguir à pena de Incatividade por um ano, em virtude de eu ter escrito uma carta pessoal, íntima e entregue em mão ao Dr. Rosa do Céu, presidente da mesma câmara, na qual eu lamentava e o censurava na qualidade de dirigente máximo do serviço, pela má condução de todo o processo que afinal o Tribunal Central Administrativo Sul, por este acordão, reconhece categoricamente sem apelo nem agravo.
Apesar da luta ser insana não só no Tribunal Administrativo e Central de Leiria onde recorri das decisões administrativas da autarquia alpiarcense e também nos Tribunais de Almeirim e de Santarém, onde correm contra mim acções cíveis e criminais intentadas pelo Dr. Rosa do Céu contra a minha pessoa, começo a pouco e pouco a ver uma luzinha ao fundo do túnel.
Apesar de criticado por uns, olhado à distância por outros sempre me mantive firme e convicto que fiz aquilo que era o meu dever fazer enquanto funcionário. Acreditem voltaria a fazer o mesmo, por isso nunca baixei a guarda e sempre fui à luta, sabendo-a dura e terrível.
Todo o funcionário que tenha em mente cumprir o seu serviço com isenção, imparcialidade e verticalidade não se deve atemorizar e deve denunciar as situações que em sua opinião extravazem e prejudiquem o normal funcionamento dos serviços.
O meu agradecimento aos que têm estado do meu lado e que me têm apoiado, a minha repulsa aos que dão uma no cravo e outra na ferradura e que com pézinhos de lã vêm tirar nabinhos da púcara para depois irem a correr "bufar-se".
Para mim o mais importante do acordão não é a minha readmissão, há pontos muito mais importantes, a saber:
I- A deliberação punitiva, em processo disciplinar, deve ser tomada por escrutínio secreto.
II- Em caso de dúvida, o órgão colegial deliberará sobre a forma de votação (arts. 2º e 24º nº 2 do CPA).
III- A omissão de diligência instrutória cuja realização poderia retirar o carácter de ilicitude à conduta do arguido constitui nulidade susceptível de inquinar a validade da deliberação punitiva.
IV- A aplicação da pena de inactividade exige a instauração prévia de procedimento disciplinar (art. 38º do E.D.).
V- A actuação de funcionário, determinada pelo cumprimento de um dever, exclui a ilicitude da conduta.
Que significam estes chavões:
I - A câmara municipal deliberou aplicar-me a pena de Inactividade sem o recurso ao escrutínio secreto, não o fez, só o veio a fazer mais de dois anos e meio depois;
III - A não facultação das facturas telefónicas do município (por parte da Instrutora do Processo) para investigar as datas e horas de acesso à internet e os telefones de onde o tinham feito constitui nulidade bastante para determinar a anulação da deliberação de me punir
IV - Foi-me aplicada um apena de Inactividade convertendo atabalhoadamente um processo de inquérito em processo disciplinar sem me dar qualquer hipótese de defesa (à melhor maneira pidesca, fascista e totalitária).
V - O TCA Sul refere expressamente que Ricardo Vaz "actuou no cumprimento de um dever e, dado o melindre da questão, enquanto funcionário e técnico de informática, não poderia deixar de alertar os responsáveis camarários (cfr. artigos 46º nº 2 e 32º, al. e) do Estatuto Disciplinar)." Uma vez que actuei no cumprimento de um dever, a existência de uma circunstância atenuante desta natureza era causa bastante para não me ser apontado qualquer ilícito disciplinar.
Caros amigos e leitores deste blogue é este parágrafo V do acordão que me deixa completamente ciente que fiz aquilo que devia ter sido feito e que outra coisa não podia fazer, sob pena, aí sim, de me acusarem de actuar como cúmplice de um crime de peculato de uso ( a utilização de meios informáticos públicos e dentro da autarquia para aceder a sites de natureza pornográfica)

13 fevereiro 2008

O homem que viu cair a sanita do avião

Por: António Centeio

Musito assim continua a ser conhecido no meio dos camionistas, é um condutor exemplar que faz milhares de quilómetros semanalmente. Dia sim dia, dia não, vai a uma fábrica do Norte buscar centenas de sanitas para depois as entregar num armazém situado no Sul onde a construção de árvores de cimento consomem tudo aquilo que transporta. Homem conhecedor das boas e más estradas, sabe onde deve reduzir a velocidade e ter cuidado com as manobras para que os da “boina branca” não o penalizem ou lhe apreendam o documento profissional que é a razão da sua subsistência como do sustento de quem dele depende.
È um condutor vaidoso. Sabe o que faz como o que deve «deixar fazer aos menos atenciosos». Do alto da cabine da sua “Scania” vê a estrada em toda a sua plenitude, coisa quem sem sempre é possível para os outros que seguem na sua rectaguarda. Nos espelhos, situados no exterior da cabine, consegue ver e calcular as manobras que os mais afoitos pretendem fazer para ultrapassar a sua camioneta quando o não devem fazer. Não é por acaso que entre os colegas de profissão é conhecido como o «mestre da estrada» de tão cuidadoso ser, como: «obrigar outros a sê-lo».
Quando assiste ao carregamento das sanitas, que vai transportar na longa distância que tem de percorrer, vê com olhos-de-ver todos os movimentos de quem faz a colocação do produtos de maneira que não haja algum azar pelo caminho, coisa que sabe ser difícil mas não impossível, para além de assistir à contagem das peças.
Foi numa destas viagens, quando atravessava a longa planície alentejana numa tarde solarenga, onde o cansaço do vaivém teimava em apoquentá-lo, determinou a si próprio, que deveria «trazer os olhos bem abertos para que nada acontecesse na viagem, caso contrário, a empregadora, retiraria do local, conhecido por todos, como o «sítio onde está colocada a “Placa do Melhor Motorista”». A sua permaneceu lá muitos meses. O suficiente para que os colegas o invejassem e acusassem de «engraxador ou ter uma relação secreta» com quem classificava os camionistas, que por acaso até era uma moçoila de se lhe tirar o chapéu.
Belo dia, sem saber como, ao passar debaixo de uma árvore, daquelas que descansam em plena estrada alentejana, um ramo da dita, inesperadamente «sacou uma sanita” ficando a dita pendurada no mesmo.
A viagem continuou. Apenas seria descoberto o desfalque do desaparecido, quando descarregada a carga no local de chegada, a quantidade de peças não dava certo com a porção escarrapachada no papel que serve para comprovar que «na origem saiu determinado número de peças, mas na chegada uma falta».
Coisa estranha para o «melhor camionista». Nas bastasse, pela calada, os invejosos ou maldizentes afirmavam que Musito deveria «ter vendido pelo caminho a sanita em falta a algum metediço nos negócios de outrém».
Seja como for, passados poucos dias, foi noticiado que em determinada estrada um grave acidente tinha ocorrido. Desta fatalidade, morreu uma pessoa. O bastante para o “Semanário da Região” ter dado um enorme destaque ao acontecimento. O único sobrevivente, em entrevista prestada ao repórter, afirmou: «Quando circulava pachorramente no meu automóvel, acompanhado de minha esposa, uma sanita caiu do avião, que sobrevoava a zona no momento, para vir aos turbilhões, lá do ar, afocinhar em cima do tecto do meu carro, fazendo com que me despistasse contra uma árvore que estava no sítio e hora errada, causando assim a morte da minha companheira».
As averiguações policiais feitas na altura concluíram que: «por razões não apuradas, uma sanita estava pendurada num ramo de uma árvore enclinada sobre a estrada, caindo o objecto causador do sinistro, em cima do veículo, que no preciso momento circulava por debaixo desta, causando assim a morte da acompanhante do motorista».
Musito como condutor e homem exemplar que queria continuar a ser, depois de ter lido a noticia, apresentou-se voluntariamente na respectiva autoridade responsável pela averiguação para detalhar em pormenor o suposto da razão daquilo que aconteceu. Ninguém acreditou no que disse. Em vez de se calar e ficar com a dúvida, ou certeza, contou a todos os companheiros a «lógica da coisa». Ao contrário do que pensava, também ninguém acreditou nele. Hoje, ninguém conhece Musito mas sim o «homem que fez cair a sanita do avião».

12 fevereiro 2008

Sou o Valentim e sou Foleiro!

Advertência: Todos os que acham um máximo ursos sufocados por corações, postais repletos de lugares comuns, músicas com letras como, por exemplo, as do André Sardet, e tudo o que se pareça com este tipo de coisas: NÃO LEIAM O QUE SE SEGUE! Isto não é para vocês! Dirijam-se a outros blogs! Dêem de frosques desta página! Se, ainda assim, todos estes avisos não bastarem para vos persuadir a bazar daqui, aguentem-se e não me chateiem depois com comentários rascos!

Perdoem-me os adeptos do Valentim, que devem ser muitos, mas eu acho este dia uma foleirada! Cada ano que passa, assiste-se a um consumo cada vez mais desenfreado de objectos delineados por contornos de bom gosto duvidoso. A corrida a relógios, molduras, almofadas, cinzeiros, porta-chaves, canecas, lenços e ursos, entre outros, sobrecarregados de corações mal paridos pelo marketing do amor, processa-se sem o garbo dos travões a impedir a compra destes verdadeiros mamarrachos. O mau gosto espraia-se pelas lojas, pelas páginas das revistas, pelos anúncios de televisão, pelo som cavo da rádio e pelo preto e branco dos jornais, obrigando o desgraçado do amor a sair à rua sem o mínimo decoro, em trajes reduzidos pela premência da exposição, uma mera formalidade da aparência, sem a qual parece que nada existe hoje em dia!

Claro está que, como as pessoas não resistem aos apelos da moda, quem se recusa a pactuar nesta quermesse, a transbordar de bibelôs pirosos e alagada por frases pré-fabricadas pelo sentimentalismo fácil, é porque é insensível e não sabe o que é o amor. Falo por experiência própria.

Certa vez, tentei-me armar em discípula do Valentim, ainda que tentando manter um certo cunho pessoal, e ofereci ao meu namorado na altura um coração em papel em que um dos lados dizia: “Sou o coração da Sara e pertenço-te.”, enquanto do outro lado comunicava: “Sou muita foleiro, não sou?!”. Nem me quero recordar da discussão escabrosa que esta última frase provocou. Parece que consegui estragar todo e qualquer clima romântico com tamanha alusão. Fui acusada das coisas mais atrozes possíveis, entre as quais de estar a gozar com os sentimentos, e de, consequentemente, andar com a alma a tiritar de frio, coberta apenas pelos agasalhos esparsos da insensibilidade. No entanto, em minha defesa tenho a dizer que, para a Sara, tal como a Sara era e é, seria impossível declarar de outrem a posse do seu coração, pelo simples facto de que isso representaria uma enorme mentira. Senão, veja-se, o coração de Sara encontra-se irremediavelmente encerrado no tórax de Sara, obsequiando as leis da Natureza. Claro que, metaforicamente, o coração de Sara poderia, de facto, pertencer ao dito namorado, mas Sara nunca iria usar uma metáfora tão afastada da realidade e, como tal, de tão fácil elaboração como esta. Sara nunca escreveria aquele postal a sério. Sem fazer referência ao mau gosto do mesmo, aquele postal nunca seria um postal de Sara. (Aparte: é giro falar de mim na terceira pessoa, dá assim um ar importante; o Júlio, o César é que tinha razão!)

Enfim… Abandonei imediatamente a minha tentativa de verbalização de sentimentos de acordo com as premissas modernas, não só em dias marcados no calendário como especiais mas também em todos os restantes dias do ano. Note-se que não tenho absolutamente nada contra o S. Valentim, um padre que acabou decapitado no dia 14 de Fevereiro após ter continuado a celebrar casamentos contra a vontade do seu imperador romano, e que, ele próprio, acabou apaixonado por uma rapariga a quem este amor curou a cegueira. A minha revolta é com o que a sociedade fez do Valentim e do amor. A subtileza sempre me pareceu fundamental em tudo na vida. Os meus padrões estéticos são demasiado susceptíveis e chocam-se facilmente com meros telegramas ruidosos e primários do coração.

Até já me pus a queimar neurónios com o poema do Fernando Pessoa que diz:

“ Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas

(…)

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas”

Já me pus a pensar seriamente se, afinal, não seria eu a ridícula que nunca experimentou o êxtase de uma carta de amor à maneira, repleta de frases do estilo: “És o sol da minha vida”, “Não consigo viver sem ti”, “Sangro cá dentro com a tua ausência”, e por aí fora. Mas, após ouvir uma multidão a cantar com o desbrago da lágrima, uma toxicodependente eterna da pirosice das palavras, a música “O Feitiço” do André Sardet, em que a melodia entoa languidamente: “Não sei se é feitiço o que é que me deu, para gostar tanto assim de alguém como tu”, percebi que prefiro ser ridícula a escrever, dizer, ou encantar-me com barbaridades como esta, em que é o próprio a admitir que foi preciso um bruxedo para gostar tanto assim de alguém como gosta da destinatária do poema; infelizmente ou felizmente, não sei bem, não consigo ficar pedrada com a lamechice como muitas pessoas. O meu gosto, quiçá ridiculamente subtil, não deixa de achar que a amada do André Sardet deve ser muito feia, ou muito burra, ou muito má, ou mesmo padecer destas três fatalidades ao mesmo tempo, para ele precisar de tamanha macumba para gostar dela.

Prefiro, eventualmente, ser insensível, fria e apelidada de ridícula pelo próprio Pessoa a, de acordo com os meus padrões estéticos, ser foleira! A fronteira que separa o belo do resto é subjectivamente ténue.

Cadastrados através do ADN

Foi publicada hoje em Diário da República (Ver o DR no link em rodapé) a Lei 5/2008 que permite a criação de uma Base de Dados de Perfis de ADN, para fins de identificação civil e criminal.

Os objectivos desta Lei são os seguintes:

1 — A presente lei estabelece os princípios de criação
e manutenção de uma base de dados de perfis de ADN,
para fins de identificação, e regula a recolha, tratamento e
conservação de amostras de células humanas, a respectiva
análise e obtenção de perfis de ADN, a metodologia de
comparação de perfis de ADN, extraídos das amostras, bem
como o tratamento e conservação da respectiva informação
em ficheiro informático.

2 — A base de dados de perfis de ADN serve ainda
finalidades de investigação criminal.

3 — É expressamente proibida a utilização, análise e
tratamento de qualquer tipo de informação obtida a partir
da análise das amostras para finalidades diferentes das
previstas no artigo 4.º

Preocupo-me com este último ponto, pois num País como o nosso, o mais certo é que um destes dias, venhamos a ter problemas com a utilização abusiva deste tipo de informação.

Gostava de lançar aqui alguma discussão sobre este assunto.

A Lei pode ser lida na íntegra através do link que está no rodapé, e o blog fica aberto aos vossos comentários.



Lei n.º 5/2008 - Criação de Base de Dados de Perfis de ADN

Coisas boas da Internet

A Internet mostra mais uma vez que há coisas boas no mundo virtual.
A empresa Hewitt, consultora especializada em Recursos Humanos, decidiu analisar as propostas que os candidatos à Presidência dos Estados Unidos têm vindo a fazer, e que dizem respeito à gestão das pessoas.

Nesse site, podemos encontrar as referências feitas pelos candidatos sobre o tema da gestão das pessoas (Fundos de Pensões, Emprego, Programas de Gestão de Saúde...), compiladas e com análises comparativas.

Fica aqui um bom exemplo do que podem fazer algumas associações em Portugal, para os próximos campeonatos eleitorais.

Para os interessados:

Link para o site da Hewitt

Coisas boas Alpiarça

Título: Lagoalva distribui vinho nos EUA
Data: 12-02-2008
Fonte: Diário Económico
Página(s): 24


VINHOS

Lagoalva distribui vinho nos EUA


O grupo Lagoalva formalizou um contrato de distribuição, com a Winebow, dos vinhos da Quinta da Lagoalva de Cima nos Estados Unidos da América. A Winebow é a única empresa que distribui nos 50 estados norte-americanos.

10 fevereiro 2008

Ao que isto já chegou... e se a moda pega cá em Alpiarça?

Compre casa, ganhe um carro, SOL / Imobiliário de 09-02-2008

Compre casa, ganhe um carro UMA MEDIADORA imobiliária de Lisboa está a oferecer um BMW aos seus clientes que comprem um dos seis apartamentos do Prédio de Santo António, no Marquês de Pombal. Segundo o comunicado da agência Villa Palace, integrada na rede ComprarCasa, o preço destes imóveis de luxo varia entre os 620 mil e 700 mil euros. A campanha decorre até 29 de Fevereiro. ...

Está aqui o link para os interessados:

http://www.comprarcasa.pt//pt/ModoConsultaPT.aspx?IDFicha=57093


Comentário:

Não sei se será Marketing, Estratégia ou... desespero, mas as coisas no ramo Imobiliário estão a animar.
Como imagino que não hajam habitações de 700 mil euros em Alpiarça, e tendo em conta os preços médios das casas na nossa terra... que tipo de ofertas podiam ser feitas para cativar os clientes.
Fico a aguardar as vossas sugestões: alpiarcense@gmail.com

06 fevereiro 2008

Um Velório à Minha Maneira

Nunca fui a muitos velórios na minha curta vida de pita acabadinha de sair da faculdade mas com a mania que sabe muito. A maioria das pessoas com quem me relaciono felizmente ainda não teve a honra de privar com a morte, essa mulheraça esbelta, sempre com a foice em riste, revelando tendências sadomasoquistas, apreciadas por muita gente, pelo que sei. Penso que um dos primeiros sintomas do envelhecimento e, portanto, da extinção do meu estatuto de pita, vai ser o crescente bombardeio com convites, vindos do além, para velórios e funerais; o que levanta uma questão interessante, nós, seres humanos tão respeitosos quando se trata das conveniências impostas pela sociedade, vamos a velórios sem sermos oficialmente convidados para tal. Sim, porque, que eu me lembre, nunca vi convites embrulhados em papel de seda para eventos de natureza fúnebre. Grande falha de organização que este facto revela acerca do mundo em que vivemos! Se ninguém é convidado oficialmente pelo anfitrião, como saber quem são os penetras? Na minha opinião, algo varrasca admito, devem haver muitos penetras nos velórios, à cata dos bolinhos com marmelada que, às vezes, se oferecem, ou dos cartõezinhos, magnificamente plastificados com a foto do defunto, ou à procura de uma oportunidade para consolar mais intimamente a viúva ou o viúvo, a filha ou o filho, a prima ou o primo, a enteada ou o enteado, a amiga ou o amigo, ou quem quer que seja que tenha a torneira dos olhos desamparadamente aberta, e precise que as suas carnes chorosas sejam carinhosa e inofensivamente afagadas num momento tão enfardado de tristeza. Por enquanto ainda não me tenho de preocupar, mas quando a patifa da morte acabar de estrangular a geração dos meus pais, pronto, será a hora de me consciencializar que passei para a linha da frente da barricada; e, ainda que contrariada, vou ter de seguir firme e hirta com o meu pelotão, marchando ao ritmo do coração, já amigado com a dita cuja pálida, esquelética e com a qualificação distinta de mestre na arte de ceifar vidas.

Os velórios em que já tive a oportunidade de participar afiguraram-se-me todos muito enfadonhos. O que está mal! Um velório tem um status tão importante na jornada da vida como um baptizado ou um casamento! E, que eu saiba, nos baptizados e casamentos, costuma haver festa da grossa! Em conversa com o meu amigo André Rosa (é preciso notar-se que um nome assim já diz tudo acerca da pessoa em questão, revelando uma personalidade fora de série; diria mesmo que André Rosa, com as suas camisolas das Tartarugas Ninja e do Um Bongo, é um autêntico génio de sedução e inteligência!) chegámos à brilhante ideia de iniciar uma empresa especializada em velórios.

Na nossa opinião, há que celebrar a morte! Ela é a passagem para a outra vida, mesmo que a outra vida seja sermos um dos átomos de carbono que compõe o esterco expelido pelo enorme bujão da vaca, há que celebrar a morte! Neste contexto de celebração, a nossa empresa propõe-se em realizar velórios à medida dos gostos de cada defunto, como que uma última homenagem à sua vida. Por exemplo, se o defunto for apaixonado pelo mar, organiza-se um velório em forma de regata; caso goste de desportos motorizados, um velório no Autódromo do Estoril assenta lindamente; se os seus gostos forem mais perversos e se, em vida, tiver sido um cliente assíduo do Elefante Branco e de outros antros da putaria, prepara-se um velório na Passerelle, no Champanhe ou mesmo no Avião (dependendo do orçamento disponível), com direito a shows de striptease durante todo o evento; na hipótese de ser uma defunta viciada em roupa e todos os géneros de compras, improvisa-se um velório mesmo no meio do Colombo; na eventualidade do defunto ser um agarrado, existe a possibilidade de se realizar um velório na Colômbia no meio de um campo de papoilas. A minha mente, conjuntamente com a brilhante mente de André Rosa, arranjaria o cenário ideal para cada situação., em troca de umas boas massas, claro, que eu só me predisponho a queimar neurónios se houver uma qualquer contrapartida que me interesse!

Ao invés do choro lamechas que sucede à morte, os familiares e amigos mais próximos do defunto iriam ter de se ocupar em fornecer-nos todo um conjunto de informações, acompanhado de fotografias e demais documentos, da vida do defunto. Este material iria ser utilizado por mim e por André Rosa na elaboração de uma apresentação em Power Point para apresentar a Deus, que resumisse, de uma forma alegre e bacana, a vida do defunto (note-se a importância de ser em Power Point, noutro suporte qualquer nunca teria tanto impacto, e Deus, amigo do Bill da Microsoft, poderia não gostar de uma coisa foleira, comprometendo assim a entrada do defunto para o tão ambicionado reino dos céus!).

O defunto ocuparia, tal como já acontece, um lugar de destaque no espaço do evento; no entanto, não estaria para ali deitado e enfiado num reles caixote de madeira. Estaria de pé, talvez embalsamado, numa pirâmide giratória feita em cristal da Atlantis e com design assinado pela Vista Alegre. Durante todo o velório, elegantes meninos e meninas em trajes reduzidos serviriam cocktails (os preferidos do defunto, obviamente) e consolariam os convidados mais fragilizados; isto para evitar os já falados penetras.

Por último, haveria um leilão de objectos do defunto; o dinheiro seria distribuído pelos entes queridos mais próximos de modo a estes poderem cobrir as despesas desta grande festarola, e para que eu e o André Rosa, esse grande génio e senhor, pudéssemos andar cada um no seu Porsche 911!

01 fevereiro 2008

Para a doutora, um burro carregado de couves


Por: António Centeio
Januário homem que já carrega quase oito dezenas de anos continua a querer mostrar que não se verga ao tempo e às coisas. O que lhe interessa é o seu espírito jovem e a pujança que sente dentro de si como das “forças vindas de um sítio qualquer” que não lhe impedem de todos os dias fazer a “amanha da sua terra”.
Todos os dias, quando se levanta e o Sol ainda está do “lado de lá de Espanha” depois dos preparos matinais senta-se na sua velha mesa para comer a sua “côdea acompanhada de um bocado de chouriço” para de seguida partir na desengonçada carroça puxada pelo “Jericó” o nome do burro, cuja idade do dito desconhece, porquanto já o comprou como “um burro velho” a um cigano numa Feira de Gado que se costuma realizar ali para os lados de Vale de Santarém.
Paragem obrigatória se torna a visita matinal na “Tasca do Fausto” a fim de tomar o seu caneco de café e respectivo bagaço em duplicado que lhe retemperam as forças para o dia que ainda não viu nascer a bola de fogo, mas que dele muito vai exigir.
Quando chega à sua herdade, a que chama de “Terra Seca” começa a tratar da “amanha” e de tudo que esta lhe pede para que “amanhã nada lhe falte como aos intermediários que o visitam para negociar o que a terra vem dando, julgando alguns que enganam o amigo Januário pela sua avançada idade” quando na verdade o conhecimento que foi adquirindo ao longo das luas, lhe deram sabedoria para numa cantilena cheia de manhas conseguir dar a volta a quem com intenção quer-lhe passar a perna. Assim e desta forma, tem conseguido levar a sua a avante “sem enganar o parceiro, como: deixar-se enganar”.
Apenas, e confessa, que o seu único fraco, mesmo com a idade que já leva, são as mulheres. Estas ainda continuam a apoquentar-lhe a cabeça e quando vê alguma saia, então a sua cabeça fervilha de coisas que já não estão a seu alcance.
Homem de uma enorme robustez física com um olhar profundo que “até queima por dentro quem para eles olha” tal é a nitidez do azul. Quanto a médicos apenas afirmava “não querer nada com eles” e no que tocava a doenças “nunca as teve”. Mas se as tivesse tido simplesmente encontraria a cura na “apanha das erva” que a sua avó lhe ensinou “servirem para curar todos os males, até os da língua”.
Nunca recusou ajudar quem quer que fosse como contribui com o que esteja ao seu alcance, desde que possa extrair no que plantou ou a “Terra Seca” por razões desconhecidas lhe coloque na frente dos olhos aquilo que outrém possa usufruir.
Tudo isto até ao dia em que a sua calvície não resistindo ao calor da tarde cedeu aos infortúnios daquilo que a idade não perdoa. Deu-lhe um fanico qualquer que tombou de imediato para o cimo do canteiro de salsa que andava a regar. Valeu-lhe a visita inesperada de uma sua protegida, que de tempos a tempos o visitava para o consolar de algo que gostava mas não tinha e ao mesmo tempo lhe transmitir as últimas novidades do burgo já que o amigo Januário não era homens de mexericos ou de andar “sem nada fazer por locais onde se diz mal de todos e se gasta dinheiro sem necessidade”.
Quando não havia bisbilhotices a idosa inventava-as. Apenas não dizia mal de si própria, porque lhe ficava mal ou o ouvinte não acreditava no que acabava de saber. Mulher astuta que sabia “tirar os ovos debaixo da galinha sem ela dar por isso” pouco se lhe importando se: tivesse ou não de deitar-se debaixo de qualquer um, desde que, pudesse “levar para sua casa aquilo que não tinha”.
Aos gritos veio pedir socorro à aldeia que num ápice, alguém, depois de ouvir o sucedido pediu ajuda aos bombeiros. Em pouco minutos Januário estava no hospital. Neste, se manteve uma dúzia de dias sempre assistido por uma linda e simpática doutora.
Dada autorização para sair, pelo seu próprio meio, por via de estar curado, criou-se-lhe o problema de “como agradecer a gentileza a quem o tão bem tratou a cuidou”. Homem desconhecedor das modernices que fazem parte do mundo em que vive como de outras novidade e ignorante que continua a ser, daquilo a que alguns chamam de “boas-maneiras” já que os seus nunca lhe ensinaram “que tal coisa quer dizer”. Para agravar as regras já que no amanho da terra nem sempre se aprende aquilo que se deveria aprender na escola, na sua voz grosseirona, mas sincera, vai daí, perguntou a quem tanto o importunava com cuidados e outros mimos ”que quer como gratificação pelo que me fez?”
Da mesma, teve como resposta: “Nada! Apenas fiz a minha obrigação como faço para com todos os doentes”. De seguida, recebeu como sinal de carinho e respeito um beijo na cara, coisa que não estava nos pensamentos do madrugador.
Não ficando satisfeito com a recusa mas sentindo-se na obrigação de recompensar, agora mais do que nunca, porque a doutora até lhe “deu um miminho na cara” foi para casa matutando na forma de contornar a coisa. Não encontrou solução ao problema nem soube descobrir outras formas. Homem habituado aos imprevistos e às partidas do tempo ouviu, vindo das “profundezas da terra” a solução.
Poucos dias depois, apresentou-se no Hospital pedindo a presença da dita especialista. Depois de informada de quem a chamava do exterior, compareceu ao apelo. Perguntando-lhe o que desejava, obteve como resposta “ minha linda e bondosa doutora, vá ali à rua e veja com os seus próprios olhos o que lhe trago como agradecimento pelo que me fez e como me tratou”. Em cima de “Jericó” estava um enorme carregamento de couves.