23 fevereiro 2008

Desempregado = Coitado ???

Ontem, ao ler os comentários a um post pensei na condição de desempregado, dos Centros de Emprego, e dos subsídios de desemprego.

Nunca estive nessa situação, a de desempregado. Não por motivos atribuídos à sorte, mas porque nunca quis.

Considero que "desempregado" é mais um estado psicológico do que um estado social.

Não tenho muitos anos de experiência profissional mas, a certa altura da minha carreira, fartei-me do tipo de profissão que tinha e decidi rescindir contrato e procurar algo que fosse mais ao encontro das minhas ambições.

Entre a altura em que me despedi (ou em que despedi os meus empregadores) e o novo desafio profissional decorreram 4 meses. Para a maioria das pessoas, eu estava "desempregado". Mas a minha perspectiva era outra: estava "à procura de emprego".

Ao mesmo tempo, estava também como "freelancer", realizando alguns "biscates", uns dentro da minha área, outros em tarefas de "baixo valor acrescentado" (coitado de mim, diriam alguns, um Dr., como muito se faz questão de dizer em Portugal, a fazer este tipo de tarefas).

Sou Psicólogo Organizacional e estive alguns anos ligado à área do Recrutamento & Selecção. A grande maioria do tempo era passado a analisar pessoas candidatas a empregos. Passaram-me alguns milhares de currículos pelas mãos e fiz largas centenas de entrevistas pessoais. Nunca recrutei ninguém "desempregado". Procurei sempre pessoas "à procura de emprego".

É tudo uma questão de atitude.

De que me serve contratar uma pessoa cheia de habilitações mas vazia de atitude? O contrário, já não é bem assim, pois a pessoa com atitute, mesmo sem habilitações, está sedenta de aprender e de evoluir. De crescer continuamente, agarrando as oportunidades que surgem e que ela própria cria.

Além desta conclusão (de recrutar pela atitude), cheguei a outra conclusão: - qual é o último sítio onde procurar pessoas para trabalhar? Se respondeu "Centro de Emprego" acertou na resposta!

De todas as pessoas que entrevistei provenientes desta fonte (e foram muitas, acreditem), apenas recrutei uma. É verdade. Uma pessoa apenas. Preconceito? Claro que não. Eram avaliados de forma isenta, como todos os outros. A diferença é que os outros não vinham para os processos de selecção pedir-me para assinar o papel que lhes permitia provar ao Centro de Emprego que não eram válidos para a função e, assim, poderem continuar a receber o Subsídio de Desemprego.

"O quê?? Ganhar o mesmo, ou pouco mais, do que ganho com o Subsídio de Desemprego e a ter chatices ainda por cima? Prefiro ficar em casa e ainda faço uns biscates por fora! Se o Dr. me pudesse assinar o papel...".

Quantas vezes não houvi esta frase de pessoas desempregadas (social e psicologicamente) perante a proposta de empregos válidos, em empresas válidas? Foram várias as vezes.

Pessoalmente prefiria ganhar menos 100€ num trabalho (mesmo que de "baixo valor acrescentado") do que mais 100€ pelo Subsídio de Desemprego para estar o dia todo em casa a comer bolachas e a dizer "coitadinho de mim que estou desempregado". O único ponto em que iria crescer era em tamanho, devido à gordura acumulada.

Já nem entro na discussão do modo de funcionamento dos Centros de Emprego, pois aí tinha que escrever mais 3 posts só com as histórias macabras que me aconteceram.

Desempregado? Acredito, sem dúvida, ser um estado de espírito.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois, pois... vai contar essa história aos meus credores. Não fazes a mínima ideia do que é estar desempregado.