A Velhice
Por: António Centeio
Opinavam no Jardim três idosos e sábios argumentistas. Um que a “velhice é uma forma simpática da vida nos dizer que estamos a caminhar para o fim”; o outro “quando morre um velho arde uma biblioteca” e o outro “o homem só é velho quando as lamentações começam a tomar o lugar dos sonhos”.
Toda esta sabedoria vinda de quem vinha, emocionou-me e fez com que frases como estas me permitissem perceber e saber a estranha lógica das coisas e dos acontecimentos para depois as transformar em crónicas. Talvez sejam estas situações e estes dizeres que fazem de mim um permanente utilizador deste espaço de lazer.
É no Jardim que me inspiro para escrever esta coluna de bem (ou mal) dizer, como nele: ouço, escuto e vejo aquilo que só os idosos sabem contemplar para depois poder transmitir.
È neste Jardim que às vezes a minha alma se entristece ou se transfigura, para de seguida, sentir a tão desejada inspiração. Nunca compreendi tal razão, mas penso que é por causa do espaço e de tudo que o rodeia como dos aromas das flores que lá estão e do cheiro da terra que brota para o ar ou do chilrear dos passarinhos que nas suas manhas de sobrevivência nos dizem que vemos o que é estranho mas não reparamos no que é normal.
Agora mais do que nunca, talvez por as folhas começarem a cair ou por a bola de fogo estar tão longe, sinto-me aconchegado, junto de quem tanto sabe pelos anos passados e pela experiência adquirida, fazendo com que possa ver as coisas como nunca as tinha visto ou ouvido.
Nada então, como sentir a terra, tão de si pisada e as vozes de quem tanto sabe - por tantos anos já sentir no corpo - mesmo que alguns sejam como aquelas árvores que quando são fortes não partem, só abanam.
Não que eu seja idoso – longe de tal – mas no vaguear desta zona verde e nas margens do rio, seduz-me a presença e a companhia de quem tudo sabe mas pouco diz. O suficiente para às vezes quando estou sentado nos bancos do Jardim a pensar que no horizonte o Céu toca no planalto da cidade. Pura ilusão!
É nesta procura de inspiração que a nostalgia me invade para me sufocar numa aflição que não me deixa dizer o que sinto. Razão, talvez, desta crónica ser mais filosófica que as passadas ou futuras.
Nesta bela terra mágica e encantada do Jardim calcanhada que está por passarem mil pés em cima dela, sinto-me como uma folha no Vento e como o Vento, onde tudo retornará ao que foi, mesmo que as mutações me impeçam de tal. Afinal a idade dos sonhos nunca acaba. Não fossemos nós incertos na natureza mesmo quando a escrita tem razões que o próprio escriba desconhece.
Aqui, sei às vezes, também por intermédio dos idosos, do que aconteceu ou do que vai acontecer, ouvindo o que dizem ou do que lêem nas estrelas, porque ler nas estrelas, só os sábios e conhecedores sabem. Razão tinha o idoso que disse “quando morre um velho arde uma biblioteca”.
Comentário:
Muito obrigado pela colaboração.
Cumprimentos,
HF
03 janeiro 2008
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