Está a chover lá fora. Aquela chuva de começo de Inverno que traz a nostalgia do Verão. Do alto deste sétimo andar, e através das grandes vidraças que adornam o edifício onde trabalho, consigo ver uma grande extensão de Lisboa. Lisboa com os seus prédios toscos, humildes e, às vezes, decadentes, que contrastam com a arrogância, a impertinência e a audácia das construções novas que, por aqui e por ali, já teimam em nascer, regadas pelo capitalismo moderno.
Daqui consigo ver bem a praça de touros do Campo Pequeno, que antigamente se bastava só com os touros mas que, nos dias que correm, não teve outro remédio senão ceder à febre de consumismo, qual madame empertigada e fútil!
A ausência suave de trabalho nesta tarde aguçou a minha curiosidade em relação à praça de touros. Porque raio é que uma praça de touros, numa cidade pseudo cosmopolita como Lisboa, tem umas cúpulas enormes e coloridas com um azul deslavado e encardido, que mais parecem saídas directamente das histórias das mil e uma noites e, como tal, apropriadas às terras mal governadas do Médio Oriente e territórios contíguos?
Dado que tenho o computador, com ligação à Internet, sempre ostensivamente ligado na minha secretária, ou seja, dado que tenho o mundo a meus pés, em sentido virtual, entenda-se, resolvi averiguar mais sobre o assunto.
Depois de vários clics descobri pouco; sem querer desmerecer essa grande senhora que é a Internet, a culpa de tão parcos resultados foi, provavelmente, minha, dado que, verdade seja dita, chegou a um ponto em que já não me apeteceu clicar mais. Descobri que o Senhor Arquitecto Dias da Silva decidiu, no final do século XIX, erigir uma praça em estilo mourisco, ou néo-arábe, como se lhe queira chamar. Permaneci na ignorância quanto ao vento oriental que lhe trouxe tamanha inspiração. Estava à espera de encontrar uma explicação baseada numa daquelas histórias fantásticas, como a que está na origem do Taj Mahal na Índia, segundo a qual o imperador o mandou construir em memória da sua mulher preferida.
Estas construções com cúpulas e traços misteriosos têm destas coisas, fazem-nos recordar as histórias de encantar que ouvimos em pequenos. O que é perigoso no meio de tantos prédios cinzentos da monotonia do dia a dia, da indiferença silenciosa que nos vai mirrando a alma aos poucos e do ritmo frenético e inútil que pauta o dia de existências que, na sua esmagadora maioria, nada têm, nem nunca hão-de ter, de original ou fantástico, de feliz ou de encantador.
E a praça de touros surge assim como a cenoura que o burro, em vão, com a obstinação cega de burro, tenta alcançar…
25 janeiro 2008
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