20 junho 2006

Jornalismo e Bloggers

Dado o súbito aparecimento de Blogs sobre a nossa terra, importa reflectir sobre este fenómeno.
Começou tudo em Setembro de 2005, com o http://alpiarcense.blogspot.com, numa brincadeira que ganhou proporções de coisa séria. Entretanto surgiram o http://rotundaseencruzilhadas.blogspot.com e podem ver do lado direito deste blog mais uns quantos (o http://www.verdeverdugo.blogspot.com/, o http://gandalf-li.blogspot.com/, o http://ratoeirasearmadilhas.blogspot.com/, o http://alpiarcarazao.blogspot.com/ e agora também o http://otrevodomar.blogspot.com/).
Não me vou pronunciar sobre os blogs, apenas sobre aquele que me parece estar a cumprir um objectivo interessante que é o Rotundas (devidamente reconhecido já no artigo do Ricardo Hipólito no Jornal Voz de Alpiarça), trazendo à luz da discussão na blogosfera assuntos relevantes para Alpiarça, com um bom nível de textos e de discussão à volta dos mesmos, gerando um nível de visitas diárias que significa ser este blog um centro de interesse para os Alpiarcenses que se movimentam pela internet.
Não creio que seja possível ainda apurar o impacte que este tipo de meio de comunicação tem na nossa vida comunitária, até porque descontando o número de vezes que cada 'leitor' acede durante o dia ao blog, creio que estamos a falar de apenas algumas dezenas de leitores diários. Comparando, e se pudéssemos editar um jornal diário em Alpiarça, creio que o mesmo não sobreviveria com tão pouca audiência. O desafio interessante seria a manutenção de um Jornal Mensal, em papel e com uma distribuição superior a 1.000 exemplares, complementado com um espaço na internet que alimentasse diariamente a vontade de saber as novidades dia-a-dia.
Pretendo vir a desenvolver este assunto com mais profundidade, mas para início de conversa fica aqui um texto interessante do jornalista Paulo Querido, que está disponível no sítio do Jornal Expresso. Aconselho também vivamente a crónica do Pacheco Pereira na Revista Sábado desta semana, e que está também disponível no seu http://abrupto.blogspot.com mais ou menos aqui.


Jornalismo e bloggers

Texto de Paulo Querido - Publicado no Jornal Expresso

A euforia em torno da descoberta da ferramenta de auto-edição e das admiráveis possibilidades da informação automaticamente ligada por hipertexto (presente na blogosfera e infelizmente ausente dos meios tradicionais em linha, sobretudo em Portugal) leva os novos autores, os bloggers a embandeirar em arco. Essa euforia traduz-se nesta síntese retirada do "senso comum blogosférico": são eles, bloggers os ladinos investigadores de A Informação num mundo em que os jornalistas se enrodilham numa panóplia de crises que afectam a Imprensa…
Ainda que o meu senso esteja nos antípodas do comum, não vou discutir a euforia, até porque dela tenho participado activamente desde Março de 2003, quando publiquei o meu primeiro post. Nenhuma pessoa que viva na info-esfera pode negar que há realidades comunicacionais a emergir, algumas das quais ameaçam as indústrias da informação e do lazer. Mas nem tudo o que parece é. Na última sessão pública em que estive acabei por subverter a questão: enquanto vamos sabendo o que podem os blogues trazer ao jornalismo (vivacidade, rapidez, expertise em certos assuntos, controlo de qualidade), porque não perguntar também o que não podem os blogues trazer ao jornalismo?
Há respostas imediatas e outras nem tanto, uma vez que o meio está em permanente evolução e o que é verdade neste instante arrisca-se a ser subvertido amanhã.
Um exemplo bem ilustrativo desta natureza periclitante. Sempre achei que os meios portugueses tinham cometido um terrível erro ao abdicarem do seu nome entregando-se nos braços dos portais. A marca Expresso subalternizou-se perante o Clix (expresso.clix.pt), o título Diário de Notícias foi engolido pelo Sapo (dn.sapo.pt), etc. Mas os estudos mais recentes acerca de hábitos de leitura em linha indiciam que os jovens (que são o público por agarrar) consomem a informação principalmente a partir de portais, que assim se valorizam mais que os nomes, marcas e títulos convencionais; afinal a «estratégia», devidamente entre aspas, dos portugueses arrisca-se a estar correcta e a minha inicial cogitação total e humildemente errada.
Apesar disso, é preciso arriscar. E eu aposto nestas respostas imediatas. Os blogues não podem dar ao jornalismo autenticidade, modelo de negócio, credibilidade, sustento, ou apoio. Se houvesse uma balança comercial entre os dois mundos, a blogosfera era largamente devedora dos media: contam-se facilmente os casos emblemáticos em que de alguma forma ajudou a melhorar o jornalismo, mas são incontáveis (e ninguém os deseja mencionar) os casos de apropriação (devida e indevida) de conteúdos e de enfoques. Ainda que lhes custe admitir, a blogosfera tem proporcionado ao jornalismo mais ruído que substância. Podia ser parte da solução, mas até agora mantém-se como parte do problema.

Paulo Querido
23:32 8 Junho 2006

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