07 agosto 2006

iPoder

What's next?

iPoder

"Andava eu de metro quando ao meu lado se sentou um miúdo (infelizmente já posso dizer isto) e retirou da mochila um iPod. Calmamente colocou os phones e começou a ver um vídeo. Sim um vídeo. Por entre o jornal não resisti a olhar com mais atenção. A imagem era evidentemente pequena mas não deixava dúvidas. O puto estava a ver um vídeo-porno. Ajeitei-me no banco, olhei à volta e já não era só eu que seguia atentamente o filme (o argumento cativava).
Questionei-o com o olhar, não devia ter mais do que dois pelos na cara, e sem retirar os phones explicou-me a mim e a todas as pessoas que estavam na carruagem. «Podfapping, ver pornografia num iPod», disse ele e as suas sorridentes borbulhas.
Mal cheguei a casa resolvi investigar (não cheguei a ver como acabava o filme porque o rapazinho saiu passadas duas estações). Encontrei uma ajuda preciosa no Urban Dicionary onde os novos termos vão sendo depositados à medida que são criados.
Estas novas palavras eram até há pouco, exclusividade das empresas que lançavam os novos produtos ou então de jornalistas mais atentos, que acompanhavam os lançamentos inventando também eles novas palavras. E ficar associado a uma nova palavra é, hoje em dia, quase tão importante como ganhar um Pullitzer.
Os blogues vieram mudar tudo isto. São agora os comuns dos mortais, que reinventam o vocabulário, lançando novas palavras na Internet que depois ganham vida própria e passam a fazer parte do dia-a-dia. Começam na gíria, no calão e passam a definição.
Lá estava então o famoso Podfapping e um sem número de palavras derivadas. iPodyssey, por exemplo, é supostamente, o árduo questionário que algumas pessoas fazem para adquirirem um iPod. Nas lojas é habitual ouvir questões do género: «Olhe, por favor, onde é que entram os CD’s para dentro do iPod?» ou «Qual é o botão do rec?», ou ainda, «Isto leva 10 mil CD’s mas eu só tenho 40, acha que compre na mesma?». Adiante.
Comecemos pelo princípio. Quando o dono de qualquer iPod caminha pela rua a ouvir música ou a ver um filme passa a ser um podestrian. Quando devotamos as nossas vidas ao iPod e passamos todo o tempo a ouvir, a fazer downloads ou a quitar o precioso iPod passamos a ser podaholics. Ainda assim bem menos grave que outros holics. Há quem também se refira a este estado de adoração como iPoddolatry.
Vem agora uma das minhas preferidas. Qualquer podaholic que se preze deve usar o seu iPod para evitar o contacto com pessoas indesejáveis. Essa pessoa passará então a ser conhecida como um Pod Snob, alguém que se refugia na música para não ter que aturar conversas desinteressantes. As aplicações parecem infinitas.
iPod spamming, fazer mais downloads de música do que aqueles que alguma vez vai ouvir. Isto é feito por aquela gentinha que quer aumentar o número de músicas no iPod só para tentar parecer mais cool do que é realmente.
iPlode que significa implodir os ouvidos por ter o volume demasiado alto. E por fim o Playlistism que, segundo o site, é o acto de julgar os outros pelo seu gosto musical, definido no conteúdo do iPod e que leva a um novo tipo de discriminação como o racismo, o sexismo ou o benfiquismo. Espero que estas palavras entrem rapidamente no nosso vocabulário e que ajudem publicitários cansados que não se cansam de fazer trocadilhos do género «ai pode, pode»."

Nuno Presa Cardoso Director criativo da BBDO

Publicado quinta-feira, 3 de Agosto de 2006 20:40 por Expresso Multimedia

Comentário do Alpiarcense: Na função que exerço, profissionalmente, um dos factores fundamentais é a curiosidade e a capacidade de antever situações futuras que decorrem de determinadas evoluções (não confundir com futurologia), sejam tecnológicas, sejam demográficas, sejam económicas, sejam outras. Basicamente quem tem a responsabilidade por Gerir o Capital Humano das Organizações deve preocupar-se em acompanhar o mais possível as tendências de evolução deste tipo de manifestações no sentido de adequar as políticas de gestão às mesmas.
No entanto, e cada vez que vejo artigos como o que copiei acima, fico com a sensação que não é de todo humanamente possível acompanhar o ritmo alucinante a que as coisas estão a acontecer.
Na minha humilde opinião, cada vez mais devemos assumir um papel de "Night Walker" ou seja, 'aprender' em permanência, e com tudo o que nos rodeia... e nem assim creio que possamos acompanhar o ritmo.

Gostava de ter a vossa opinião acerca deste tema alpiarcense@gmail.com

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