O Vazio
Ao longe
A vida sai à rua como de costume:
A desenrolar democraticamente
Ódios, amores, medos, saudades, sonhos, memórias e pesadelos
Ao perto
O estrépito das sirenes a avançar pela estrada tortuosa da mente
Vidros interiores a estilhaçarem-se irreversivelmente,
Implacáveis fragmentos de segredos
Afiados por infinitos e irremediáveis porquês
A alma reflectida no espelho não é a minha,
Contudo, o marasmo em seu redor deixou de lhe permitir a ilusão de pertencer a outro alguém
O Desfazer o Vazio
Paro a vida. Suspendo os ponteiros do relógio que habita dentro de mim porque me apetece. Escuto o mundo na esperança que ele me sussurre que caminho hei-de seguir. Silêncio.
Lembranças boas e más. Rio-me. Eventualmente choro. Raramente pestanejo porque acho que não vale muito a pena; no entanto, às vezes arrependo-me. Magoo as pessoas. Julgo-me a mim própria, Torno-me no meu carrasco. Puno-me. Sei que as estrelas acabam sempre por irromper no escuro da noite, mesmo da noite mais usurpadora do dia. Mas não consigo evitar ficar impaciente. Oiço música. Leio. Vou à praia. Escrevo. Converso. Partilho histórias. Conto segredos. Acendo cigarros. Lembro-me. Esqueço-me. Fico baralhada. Ando um passo para a frente. Recuo. Aborreço-me. Enlouqueço-me. Grito. Perco-me. Canso-me. Bebo água. Saboreio martinis. Como chocolates. Planeio. Desfaço o que planeei, Torno a planear outra vez. Penso. Durmo. Acordo. Espreguiço-me. Tenho calma. Tenho pressa. Engano-me. Iludo-me. Faço. Destruo. Apresso-me. Interrompo-me. Despeço-me. Regresso. Arrumo-me. Desarrumo-me. Enfrento-me. Escondo-me. Descubro-me. Batalhas infinitas. Guerreio. Ando às voltas. Hesito. Confesso-me. Traio-me. Persigo-me. Em vão. ..Acho pouco, Acho muito. Meço forças. Digo disparates. Suavizo. Disperso-me. Espicaço-me. Encanto-me. Entedio-me. Acho que sim. Acho que não. Sou injusta. Desbobino tentativas. Enfureço-me. Dispo-me. Troco o tudo pelo nada. Aposto no nada para ganhar o tudo. Extasio-me. Falo. Fico em silêncio. Opto pelo certo. Acerto no errado. Limito-me. Odeio-me. Adoro-me Perdoo-me. Esforço-me. Revejo-me. Orgulho-me. Sofro. Apercebo-me. Brinco. Jogo, Distraio-me. Atiro-me para a roleta. Desespero-me. Canso-me… Vivo. Sobrevivo.
Percebo cada vez melhor que somos todos iguais e que as nossas diferenças são demasiado subtis para serem realmente importantes. O que nos põe a sorrir não é o mesmo para todos, no entanto, a aparição dos dentes no rosto processa-se da mesma maneira em todo o formato de gente. Assim como, apesar de não ser o mesmo o que nos consegue surripiar uma lágrima, o escorregar húmido que a arranca às pupilas é idêntico em todos nós.
Ponho o raciocínio no forno. Pego no aspirador e limpo os ventrículos do coração.
Decido que é altura de me mexer. Vejo um ponto brilhante lá ao longe. Não sei como lá chegar. Mas sei que está lá à minha espera. Guardado pela minha determinação em ser feliz. Corro. Liberto o suor que me envenena. Pelo caminho começo-me a aperceber que o ponto brilhante afinal não é nenhum ponto e está em todo o lado. Ele é a própria estrada.
Surpreendo-me. Liberto-me. Sinto-me. Recupero-me. Reciclo-me. Sempre que achar necessário. Nunca desisto.
10 março 2008
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