Há quanto tempo não prova um vinho do Ribatejo?
Há quanto tempo se desligou dos vinhos desta região portuguesa?
A pergunta não é descabida porque, infelizmente, o Ribatejo continua a padecer de uma crónica falta de imagem, de uma quase total ausência de prestígio. Longamente associado ao vinho a granel, à grande produção, ao grande volume, ao vinho que abastecia as tascas de Lisboa, é difícil para o Ribatejo divorciar-se desta imagem tão depreciativa.
Poderá o Ribatejo competir com as restantes regiões portuguesas?
Seguramente que sim!
Poderá não dispor das mesmas aptidões naturais de outras regiões mais afortunadas, mas tem muitos trunfos na manga. Por um lado, é a região portuguesa com menores custos fixos, tornando-a na região com o melhor potencial para cavalgar o cobiçado epíteto de região com a melhor relação qualidade/preço do mercado.
Tem muita e boa terra, tradição agrícola, e uma mentalidade aberta a novas práticas.
Tem um clima favorável e uma grande vantagem competitiva face ao seu maior rival natural, o Alentejo – dias quentes e noites frescas.
Tem as condições naturais indispensáveis para poder vir a ser uma versão nacional dos vinhos do novomundo, vinhos fáceis, agradáveis, atraentes, fiáveis… e baratos!
Mas os vinhos baratos, de volume avantajado, não são o único caminho possível para os vinhos ribatejanos.
Nem o único desejável!
Porque no Ribatejo também se podem edificar vinhos excelentes, vinhos de carácter forte e temperamento, vinhos irrepreensíveis na qualidade. E já há quem os esteja a fazer. Têm sido pouco comentados, pouco falados, mas existem no mercado vinhos ribatejanos que se destacam pela qualidade, pela originalidade, pelo temperamento único.
Quer conhecer alguns deles?
Experimente o Quinta da Lagoalva de Cima Alfrocheiro 2005. A casta é ainda relativamente rara no Ribatejo, mas afirma aqui todo o seu potencial, consolidando-se como uma das castas mais singulares e interessantes de Portugal. O vinho é extraordinário e singular, um vinho de personalidade forte, um vinho de uma inesperada frescura que tempera de forma feliz o núcleo central de fruta farta. De perfil levemente rústico, é um tinto excelente que, de formadefinitiva, evidencia o enorme potencial do Ribatejo. De resto, os vinhos da Quinta da Lagoalva, comandados pelo jovem enólogo Diogo Campilho, mostram-se cada vez mais como a grande referência do Ribatejo.
Experimente também o Tributo 2005, um vinho de autor, de tiragem limitada, feito pelo mediático enólogo Rui Reguinga. É o seu vinho! É um vinho de alma que, por vezes, se mostra rude no trato, mas um vinho de terroir, um vinho telúrico, um vinho de convicções fortes. É quase um vinho de garagem, de produção diminuta, mas uma sincera homenagem, elaborado com vinhas velhas, de personalidade forte.
E, finalmente, aprecie o Ikon 5 2005. Sim, sim, apesar de algo enigmático é mesmo este o nome do vinho. É um vinho da Fiúza, um vinho que mostra de forma aberta as suas ambições, um vinho compacto e intenso. Felizmente, e ao contrário de muitos outros vinhos próximos, não tem qualquer indício de exagero que o descaracterize. Três vinhos de referência para a região, mas igualmente de excelência no panorama do mundo dos vinhos portugueses.
Perca os preconceitos e aventure-se à descoberta de novos sabores.
Artigo de Rui Falcão, publicado na edição de 28/11/2007 do jornal www.oje.pt
falcao@ruifalcao.com
28 novembro 2007
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